material cedido pela professora Helena Guedes
colégio industrial iadê curso técnico de desenho de comunicação apostila nº 1.04.01 disciplina: português elaborada por: departamento teórico transcrita do livro: Os Lusíadas – Luiz Vaz de Camões; Primeiras Estórias – João Guimarães Rosa; Antígona – Sófocles; Aquele que diz sim, Aquele que diz não – Bertold Brecht; Poesia Moderna; para fins didáticos de circulação interna.
Gêneros Literários
Oferta
Saibam quantos este meu verso virem que te amo do amor maior que possível for
Canção e Calendário
Sol de montanha Sol esquivo de montanha felicidade teu nome é Maria Antonieta d’Alckmin
No fundo do poço no cimo do monte no poço sem fundo na ponte quebrada no rego da fonte na ponta da lança no monte profundo nevada entre os crimes contra mim Maria Antonieta d’Alckmin
Felicidade forjada nas trevas entre os crimes contra mim Sol de montanha Maria Antonieta d’Alckmin
Não quero mais as moreninhas de Macedo não quero mais as namoradas do senhor poeta Alberto d’Oliveira
Convite
Escuta este verso qu’eu fiz pra você pra que todos saibam qu’eu quero você
Imemorial
Gosto do pudor de minha mãe Estrela de abas abertas Não sei quando começaste em mim em que idade em que eternidade em que revolução solar Do claustro materno eu te trazia no colo Maria Antonieta d’Alckmin
Te levei solitário nos ergástulos vigilantes da ordem intraduzível nos trens de subúrbio nas casas alugadas nos quartos pobres e nas fugas
Cais de minha vida errada certeza do corsário porto esperado coral caído do oceano nas mãos vazias das plantas fumegantes
Quero você Não quero mais crucificadas em meus cabelos Quero você
Não quero mais a inglesa Elena Não quero mais a irmã da Nena Não quero mais a bela Elena Anabela Ana Bolena Quero você
Toma conta do céu toma conta da terra toma conta do mar toma conta de mim Maria Antonieta d’Alckmin
E se ele vier defenderei E se ela vier defenderei E se eles vierem defenderei E se elas vierem todas numa guirlanda de flechas defenderei defenderei defenderei
Cais de minha vida partida sete vezes Cais de minha vida quebrada nas prisões suada nas ruas modelada na aurora indecisa dos hospitais Bonançosa bonança
Mulher vinda da China para mim vestida de suplícios nos duros dorsos da amargura para mim Maria Antonieta d’Alckmin
Teus gestos saíam dos borralhos incompreendidos que tua boca ansiosa de criança repetia sem saber Teus passos subiam das barrocas desesperadas do desamor Trazias nas mãos alguns livros de estudante e os olhos finais de minha mãe.
Porém já cinco sóis eram passados Que dali nos partíramos cortando Os mares nunca de outrem navegados, Prosperamente os ventos assoprando, Quando hua noite, estando descuidados Na cortadora proa vigiando, Hua nuvem, que os ares escurece, Sobre nossas cabeças aparece.
Tão temerosa vinha e carregada, Que pos nos corações um grande medo; Bramindo, o negro mar de longe brada, Como se desse em vão nalgum rochedo. ”Ó Potestado (disse) sublimada: Que ameaço divino ou que segredo Este clima e este mar nos apresenta, Que mor cousa parece que tormenta?”
Não acabava, quando hua figura Se nos mostra no ar, robusta e válida, De disforme e grandíssima estatura; O rosto carregado, a barba esquálida, Os olhos encovados, e a postura Medonha e má e a cor terrena e pálida; Cheios de terra e crespos os cabelos, A boca negra, os dentes amarelos.
Tão grande era de membros, que bem posso Certificar-te que este era o segundo De Rodes estranhíssimo Colosso, Que um dos sete milagres foi do mundo. Cum tom de voz nos fala, horrendo e grosso, Que pareceu sair do mar profundo. Arrepiam-se as carnes e o cabelo, A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo!
E disse: “Ó gente ousada, mais que quantas No mundo cometeram grandes cousas, Tu, que por guerras cruas, tais e tantas, E por trabalhos vãos nunca repousas, Pois os vedados términos quebrantas E navegar meus longos mares ousas, Que eu tanto tempo há já que guardo e tenho, Nunca arados de estranho ou próprio lenho:
Pois vens ver os segredos escondidos Da natureza e do húmido elemento, A nenhum grande humano concedidos De nobre ou de imortal merecimento, Ouve os danos de mi que apercebidos Estão a teu sobejo atrevimento, Por todo o largo mar e pela terra Que inda hás-de sojugar com dura guerra.
Sabe que quantas naus esta viagem Que tu fazes, fizeram, de atrevidas, Inimiga terão esta paragem, Com ventos e tormentas desmedidas. E da primeira armada, que passagem Fizer por estas ondas insofridas, Eu farei do improviso tal castigo, Que seja mor o dano que o perigo!
Aqui espero tomar, se não me engano, De quem me descobriu suma vingança. E não se acabará só nisto o dano De vossa pertinace confiança: Antes, em vossas naus vereis, cada ano, Se é verdade o que meu juízo alcança, Naufrágios, perdições de toda sorte, Que o menor mal de todos seja a morte!
E do primeiro Ilustre, que a ventura Com fama alta fizer tocar os Céus, Serei eterna e nova sepultura, Por juízos incógnitos de Deus. Aqui porá da Turca armada dura Os soberbos e prósperos troféus; Comigo de seus danos o ameaça A destruída Quíloa com Mombaça.
Outro também virá, de honrada fama, Liberal, cavaleiro, enamorado, E consigo trará a formosa dama Que o amor por grão mercê lhe terá dado. Triste ventura e negro fado os chama Neste terreno meu, que, duro e irado, Os deixará dum cru naufrágio vivos, Para verem trabalhos excessivos.
Verão morrer com fome os filhos caros, Em tanto amor gerados e nascidos; Verão os Cafres, ásperos e avaros, Tirar à linda dama seus vestidos; Os cristalinos membros e preclaros À calma, ao frio, ao ar verão despidos, Despois de ter pisada, longamente, Cós delicados pés a areia ardente.
E verão mais os olhos que escaparem De tanto mal, de tanta desventura, Os dous amantes míseros ficarem Na fervida e implacabil espessura. Ali, despois que as pedras abrandarem Com lágrimas de dor, de mágoa pura, Abraçados, as almas soltarão Da formosa e misérrima prisão.”
Mais ia por diante o monstro horrendo, Dizendo nosso fados, quando, alçado, Lhe disse eu: “Quem és tu? Que esse estupendo Corpo, certo, me tem maravilhado!” A boca e os olhos negros retorcendo E, dando um espantoso e grande brado, Me respondeu, com voz pesada e amara, Como quem da pergunta lhe pesara:
“Eu sou aquele oculto e grande Cabo A quem chamais vós outros Tormentório, Que nunca a Ptolomeu, Pompónio, Estrabo, Plínio, e quantos passaram, fui notório. Aqui toda a Africana costa acabo Neste meu nunca visto Promontório, Que pêra o Pólo Antárctico se estende, A quem vossa ousadia tanto ofende!
Fui dos dilhos aspérrimos da Terra, Qual Encélado, Egeu e o Centimano; Chamei-me Adamastor, e fui na guerra Contra o que vibra os raios de Vulcano; Não que pusesse serra sobre serra, Mas, conquistando as ondas do Oceano, Fui capitão do mar, por onde andava A armada de Neptuno, que eu buscava.
Amores da alta esposa de Pleu Me fizeram tomar tamanha empresa. Todas as Deusas desprezei do Céu, Só por amar das águas a Princesa. Um dia a vi, co as filhas de Nereu, Sair nua na praia: e logo presa A vontade senti de tal maneira, Que inda não sinto cousa que mais queira.
Que fosse impossibil alcançá-la, Pela grandeza feia de meu gesto, Determinei por armas de tomá-la E a Dóris este caso manifesto. De medo a deusa então por mi lhe fala; Mas ela, cum fermoso riso honesto, Respondeu: “Qual será o amos bastante De Ninfa, que sustente o dum Gigante?
Contudo, por livrarmos o Oceano De tanta guerra, eu buscarei maneira Com que, com minha honra, escuse o dano.” Tal resposta me torna a mensageira. Eu, que cair não pude neste engano (Que é grande dos amantes a cegueira), Encheram-me, com grandes abondanças, O peito de desejos e esperanças.
Já nóscio, já da guerra desistindo, Huia noite, de Dóris prometida, Me parece de longe o gesto lindo Da branca Thetis, única, despida. Como doude corri, de longe abrindo Os braços para aquela que era vida Deste corpo, e começo os olhos belos A lhe beijar, as faces e os cabelos.
Oh! Que não sei de nojo como o conte! Que, crendo ter nos braços quem amava, Abraçado me achei cum duro monte De áspero mato e de espessura brava. Estando cum penedo frente a frente, Que eu pelo resto angélico apertava, Não fiquei homem, não, mas mudo e quedo E, junto dum penedo, outro penedo!
Ó Ninfa, a mais formosa do Oceano, Já que minha presença não te agrada, Que te custava ter-me neste engano, Ou fosse monte, nuvem, sonho ou nada? Daqui me parto, irado e quase insano Da mágoa e da desonra ali passada, A buscar outro mundo, onde não visse Quem de meu pranto e de meu mal se risse.
Eram já neste tempo meus Irmãos Vencidos e em miséria extrema postos, E, por mais segurar-se os Deuses vãos, Alguns a vários montes sotopostos. E, como contra o Céu não valem mãos, Eu, que chorando andava meus desgostos, Comecei a sentir do Fado immigo, Por meus atrevimentos, o castigo.
Converte-se-me a carnr em terra dura; Em penedos os ossos se fizeram; Estes membros, que vês, e esta figura Por estas longas águas se estenderam. Enfim, minha grandíssima estatura Neste remoto Cabo converteram Os Deuses; e, por mais dobradas mágoas, Me anda Thetis cercando destas águas.”
Assi contava; e, cum medonho choro, Súbito de ante os olhos se apartou. Desfez-se a nuvem negra, e cum sonoro Bramido muito longo o mar soou. Eu, levantando as mãos ao santo coro Dos Anjos, que tão longe nos guiou, A Deus pedi que removesse os duros Casos, que Adamastor contou futuros.
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