LEONORA FINK
1960 - CURSO TÉCNICO DE DESENHO DE COMUNICAÇÃO
 
iadê

O filósofo espanhol José Ortega y Gasset, nos diz que “multidões e multidões de seres humanos foram lançados à cena histórica com tal velocidade que foi difícil as saturar com a cultura humanista. Nas escolas que eram uma fonte de orgulho no século XIX e inícios do século XX na Europa, tem sido impossível fazer mais do que dar instrução às massas na técnica da vida moderna; descobriu-se que é impossível os educar”.
A educação não pode ser reduzida a um simples “amaestramento”, não pode ser dirigida a um aprendizado por meio dos modelos estabelecidos pela preponderância do capital dominante e a tecnologia imposta, em detrimento do humano, como a salvação da humanidade. Não pode ser imposta aos educandos, como principal meio de aprendizagem, a memória primaria dos fatos.
As atividades do iadê tiveram por objeto lutar contra esse principio, aparentemente insuperável, por estar instituído essencialmente como normal conceito de educação.
O desenvolvimento da capacidade mental do aluno através de uma educação humanista, universalista, laica, livre e principalmente crítica, foi o principio básico que rompeu com a educação instituída e proporcionou uma nova visão da vida e abriu caminho para uma ação profissional livre, criativa e consciente. Não consentindo mais que suas mentes fossem heterodirigidas e sim, por terem tido uma educação-formação humanista, laica, livre e crítica; uma formação adequada e uma personalidade definida e consciente para poder pensar com liberdade e consciência, criando valores e modelos de uma nova humanidade.
Infelizmente os 28 anos de atividade do iadê foram insuficientes para criar uma seqüência de gerações que viesse a ter a transcendência necessária para modificar a educação e ser o centro de referência que mudará o pais.
Federico García Lorca nos dijo “Hay que abrirse del todo frente a la noche negra para que nos llenemos del rocío inmortal”. Isto eu o interpreto como a necessidade de trabalhar para que cada ser humano possa dizer com orgulho que participa para o bem universal sob o principio de “Yo soy lo que hago”. Esta filosofia de vida se viu interrompida drástica e violentamente pelo golpe militar de 1964, e posta em clara evidencia pela doutrina imposta nos anos da ditadura. Foi a ruptura de um processo que teria contribuído, como exemplo democrático, para a implantação de um regime novo e universal.

As autoridades culturais que nos visitaram fazendo palestras ante nossos alunos, os eventos culturais exclusivos realizados na nossa sede e nos teatros, universidades etc. e o trabalho consciente e digno de nosso glorioso corpo docente foram exemplos do nível cultural que conseguiu alcançar a nossa instituição.
Superar o adestramento das chamadas massas populares, dirigido a imbecilização coletiva para acabar de vez com o conceito de “povo”, hoje praticamente desaparecido. Prevaleceu a massa ignorante.
A massa por ser amorfa, por no ter forma própria, pensamento independente, não tem opinião racionalmente justificável nas suas atitudes, de donde se deduz a debilidade das nossas democracias.
Autoridades relacionadas com a educação clamam e defendem uma educação para todos, mas não especificam qual educação. Ninguém expõe um programa que considere a educação humanista, universal e crítica. Todo se reduz à aplicação dos programas com conceitos extraídos dos sistemas políticos, tomados como exemplos democráticos, que não são outra coisa que a manutenção do “status quo” em beneficio dos impérios dominantes de todo tipo.
O aluno deve ser visto como um ser criativo e não um mero receptor de informações, mais como alguém capaz de participar ativamente de sua formação. O conhecimento e uma descoberta a ser construída pelo aluno com a colaboração e orientação do professor. Proporcionar situações que possibilitem a experiência criativa. O aluno aprende através do que ele faz. Conhecimento é possuir as condições para desenvolver sua própria criatividade.
Liberdade não é uma estátua ou uma palavra, é um caminho para quem se sente responsável e atuante na construção da comunidade. Um aluno que aprende a pensar por si mesmo é capaz de optar conscientemente e assumir seus atos.

Emilio Fernández Cano


voltar a busca