ENTREVISTA - PROFESSOR FLÁVIO LUIZ MATANGRANO
Ex-aluno, turma 1979 a 1981. Professor durante o ano de 1987, último ano de funcionamento do iadê instituto de arte e decoração. Entrevista gravada em 1 de abril de 2005 em sua residência.
Leonora: Agora sim, está gravando. Fale o seu nome primeiro.
Matangra: Flávio Luiz Matangrano. Estudei no iadê de 79 a 81, o que me influenciou então, nessa época, foi que tinha muita gente que fazia assim, não sei se na tua época também: se estudava no iadê, depois fazia cursinho no Universitário e aí FAAP. O Universitário atraia muita gente do Iadê porque tinha o Fajardo e o Baravelli. Se dizia que fazer cursinho lá era bacana porque ter aula de linguagem arquitetônica com eles, era hiper legal, e que eles também tinham passado pelo Iadê. Eu queria fazer arquitetura, mas não entrei na FAU. Entrei na lista de aprovados de arquitetura do Mackenzie e de artes na FAAP. Naquele tempo ainda não tinha arquitetura lá, então entrei em pensando fazer Comunicação Visual, também porque eu achava legal essa coisa do design gráfico e tudo mais.
Leonora: Na minha época também, eu também fiz o Universitário e depois fui pra FAAP.
Matangra: Quem eu tenho visto, desde aquela época é o Saggese. A Lola eu nunca mais vi, ela também ficou até o fim do Iadê, quando eu dei aula lá, ela ainda era laboratorista. A Crisleine de desenho técnico também foi até o final da escola...
Leonora: Você teve aula com o Renato Vieira? Escrevi um e-mail prá ele, disse que vai colaborar com o que puder.
Matangra: Tive sim ! Soube pelo Orkut que ele está trabalhando em alguma coisa ligado ao governo, parece que com a prefeitura, não é? Quem me falou foi o pessoal do Orkut, alguma coisa ligada à cultura, ou ao Condephaat , ou coisa assim...
Leonora: Ah é? Eu sei que ele hoje é psicanalista, eu vi na Internet.
Matangra: É, não sei.
Leonora: Como você foi dar aula no iadê?
Matangra: Bom, eu estava saindo da FAAP, uma amiga minha me disse que tinha aberto uma vaga na fotografia, Depois do Arnaldo Pappalardo e do Saggese, parece que teve alguém e depois eu. A Lola ainda estava trabalhando de laboratorista. Ainda tinham aquelas coisas do laboratório e equipamentos, mais ou menos conservados, mas a casa não tinha uma instalação ou sala apropriada para uso como laboratório...
Leonora: Por que? Estava fechado?
Matangra: Não, porque a casa, como tinham acabado de mudar e era uma casa normal, separaram uma sala que virou sala de aula, um quarto virou outra...
Leonora: Isso é ruim, não é?
Matangra: É, e aí, eu não sei se você lembra do Oswaldo?
Leonora: Lembro, claro.
Matangra: Oswaldo era o zelador lá do iadê...
Leonora: É, sei.
Matangra: Ele que deu um jeito de construir o laboratório num lugar que eu acho que era a cozinha...
Leonora: Ah, uma adaptação...
Matangra: Foi uma coisa meio mambembe porque o teto do laboratório, não sei se por ter goteira ou o que, deixava entrar fios de luz... Ele ainda jogou um plástico preto, mas até o plástico que ele arrumou era todo furado!
Leonora: Puxa...
Matangra: Então, entrava uma luz, ficava parecendo aqueles filmes de Vietnã...sabe floresta...que fica entrando aqueles feixes de luz ?
Leonora: É sei, nossa...aquele facho...
Matangra: Daí eu falei – não vai ter como a gente usar esse laboratório...até tinha todos aqueles ampliadores, sabe, toda aquela coisa que tinha na Paulista, todo aquele equipamento bacana estava lá. Estava tudo mais ou menos bem conservado, bem usado, mas estava tudo lá.
Leonora: Que pena.
Matangra: É o problema foi que...
Leonora: A instalação.
Matangra: Realmente a instalação física da casa que não dava para utilizar. Tive que pedir aos alunos usarem filme de slides, e então mandávamos revelar em laboratório e aí eu projetava, e assim íamos comentando os trabalhos...
Leonora: Então mudou o curso.
Matangra: É, eu tive que adaptar toda a estrutura daquilo que a gente tinha, que era legal, não é? Na Paulista tinha um estúdiozinho, tinha um laboratório hiper bem montado...
Leonora: É, e tinha a sala de aula também...
Matangra: É, aquela sala de aula... eu lembro dela direitinho: tinha a sala de aula, o estúdiozinho e daí a parte dos ampliadores e a parte de revelação de filmes mais lá no fundo, não é? Lá, na outra, não tinha nada disso. Foi meio triste. Aconteceu a mesma coisa com a biblioteca... que era hiper legal na Paulista...
Leonora: Era muito legal. Ótima.
Matangra: Na casa, acho que já na mudança, muita coisa se perdeu. Daí quando fechou, porque daí já não tinha mais realmente condição, porque a aula eu tinha só uma vez por semana, quando eu fiquei sabendo que os professores que tinham a receber iriam receber em livros, fui até lá já tinham levado tudo. A única coisa que eu levei, na verdade foi o Oswaldo que me deu, foi uma das cadeiras do iadê, e ele queria até que eu levasse outras, mas eu não tinha onde por. Na época eu morava ainda com os meus pais e nem tinha aonde por e aí...
Leonora: É, o Marcos Pessoa tem quatro, a Renata também tem quatro ou cinco.
Matangra: É e as dele estão reformadinhas, não é? Porque ele mandou tratar e tudo.
Leonora: É, sim.
Matangra: A minha, na verdade, eu na época mandei por o couro e tudo novo, mas só que aí com o tempo também passou e estragou. ... Ao mesmo tempo foi legal, porque o espírito da escola era o mesmo, e tinha aquela coisa de todas as disciplinas tentarem puxar alguma coisa, principalmente de ter trabalhado com a Lola nesse último ano, porque ela faz parte do iadê. Ela você conseguiu localizar?
Leonora: Ainda não, você sabe o sobrenome dela?
Matangra: Lola, era Dolores não sei o que...ah, ela era casada com o Topa, ele numa época era o professor de física.
Leonora: Isso eu sei, o Topa, e o sobrenome?
Matangra: Mas na época em que a gente ficou trabalhando juntos, lá no iadê, ela trabalhava de laboratorista e ela estava trabalhando com essa coisa de instituto médico legal, ou alguma coisa parecida assim. Sei que aí eu não vi mais a Lola. E com o Saggese, você conversou com ele ou não?
Leonora: Já escrevi e-mail, mas ele não me respondeu.
Matangra: É? Mas eu falei pelo telefone com ele outro dia e ele disse que ia falar com você. Se quiser eu te dou o número do telefone dele.
Leonora: É melhor. Eu tenho o e-mail.
Matangra: É aqui pertinho, na Henrique Schaumann, é do estúdio. Ele está morando agora no estúdio agora que tem uma coisa embaixo. Ele me falou que ia falar com você. É que é difícil juntar todo mundo numa data só.
Leonora: Isso é, mas quem puder ir vai, não é?
Matangra: Se você conseguir juntar todo mundo vai ser quase um evento.
Leonora: Ah,é impossível juntar todo mundo, não é? Mas o Emílio disse que vai.
Matangra: Você o entrevistou não é?
Leonora: É, eu queria que alguém fosse comigo lá, mas ninguém se manifestou.
Matangra: Ah, eu até queria ver o Emílio depois de tanto tempo, é que eu já tinha compromisso, mas eu tinha a maior curiosidade de encontrar com ele de novo, porque eu achava ele uma figura... Na minha turma, assim, não sei se na sua também era assim, mas a maioria era mais velha do que deveria ser sabe, sei lá, a gente estava no primeiro ou segundo colegial, então a idade certa seria ter dezesseis, dezessete anos. Tinha gente de vinte, vinte e cinco, que era o pessoal que...
Leonora: Não, na minha turma tinha de dezesseis até dezoito.
Matangra: É, mas a gente era meio criança. Tinha lá um pessoal já de carro e tudo e a gente lá, então ele tratava a gente meio, não diferente, mas ele tratava a gente assim...é que ele sempre foi muito engraçado. Eu lembro dele até hoje assim, chamando o elevador com o pé, para os dias de hoje é uma coisa assim meio maluca, não é? Aí quando eu fiquei sabendo que era no sábado eu falei assim, pó...não tem jeito.
Leonora: Não, foi na sexta-feira santa. Um dia mesmo ruim, feriado. Matangra: Ah, então era isso, tinha alguma coisa que não dava. No dia do vídeo eu vou tentar ir, na terça eu dou aula de noite.
Leonora: Terça ou quinta, de manhã ou à tarde. Vou tentar marcar.
Matangra: Na quinta de manhã e de noite, então eu teria que dar uma corrida, mas dá, e na terça à noite. Mas quer dizer, dependendo do dia, a gente dá um jeito também. É essa questão de ter mudado pra Santo Amaro que é...eu ainda não fui lá no Senac. Onde você estudou antes?
Leonora: Era lá na Lapa, na Scipião, era mais parecido com o iadê.
Matangra: Eu também dei aula no Senac, aquele na frente do Sesc Vila Nova.
Leonora: Agora deve ter algum outro curso lá.
Matangra: É, acho que tem locução e não sei mais o que. É eu dei uns três cursos lá, só que daí mudou a coordenadora, que me chamava, e a que entrou no lugar dela não me chamou mais. Sabe onde que era bem parecido com o iadê, e eu estava dando aulas até o outro dia? Não sei se eu te falei, é a Escola da cidade.
Leonora: É, você falou.
Matangra: São dois prédios que eles juntaram lá na General Jardim, para fazer a escola, até é um prédio que rolou um dos “Arte Cidade”, não sei em que ano... mas de qualquer forma é um lugar legal...
Leonora: Quem me falou foi a mãe de um amigo da minha filha.
Matangra: Ele estuda lá?
Leonora: Não, é que ela é arquiteta.
Matangra: O envolvimento dos alunos é bacana...eles adoram! É como quando a gente estudava no iadê, eles se envolvem, participam bastante. Tem uma coisa boa, é que a direção faz eles participarem bastante.
Matangra: Não sei quem estava falando que não tinha gostado na época, da FAAP.
Leonora: Eu adorei a FAAP.
Matangra: Na época da FAAP, quando eu estudei, não sei se era porque tinha muita gente que tinha saído do iadê e a gente já chegou meio enturmado, foi muito legal.
Leonora: Fora também que tinha muitos professores. Eu cheguei e já encontrei o Odair ².
Matangra: Foi muito legal. Está começando a juntar um grupo legal na FAAP, que ao mesmo tempo, por ter essa estrutura mais careta de empresa, as coisas ainda não acontecem. Aos poucos, talvez fique bacana de novo, mas não sei se vai chegar a ter esse, que nem era antigamente, não sei.
Leonora: É como o Senac também, está muito empresa e é enorme.
Matangra: Eu não sei o que teria hoje em dia para a gente escolher. É que o colegial não tem mais opção.
Leonora: Santa Maria é um colégio bom, mas é um colégio de freiras, eles têm até teatro, vão para o lado de artes.
Matangra: Naquela época tinha o Equipe, se eu não fosse estudar no iadê ia no Equipe, mas nem sei se é o que era antigamente Nem se é direcionado para essa coisa de arte e arquitetura como era o iadê, não é?
Leonora: Não sei também, nem faço idéia.
Matangra: Sei que quando eu me formei na FAAP tinha o Carlos de Campos, não sei se você conhece... eu fiz estágio lá, para licenciatura, era um colégio público, que tem lá perto da rua das noivas...
Leonora: Caetano de Campos ?
Matangra: Não...porque o apelido Cacá...
Leonora: É o Caetano, aquele bem grandão ?
Matangra: Não é o da praça da República... sabe a rua das noivas? É uma que vende vestidos, noivas, essas coisas. É do outro lado da Estação da Luz... E era um colégio estadual legal de segundo grau, que tinha essa coisa, um colegial técnico, para o pessoal de desenho, de arquitetura. Alguns amigos meus da FAAP, acabaram dando aulas lá e diziam que eles tinham liberdade para fazer instalação, fazer pintura, ... Eu nem sabia que existia um colégio estadual pra essa área...E eu não sei se hoje em dia ainda existe. Eu sei que a FAAP, quando eu comecei a dar aulas lá agora, vários alunos tinham feito o tal do Cacá...
Observação: Odair Magalhães, ex-professor do iadê e da FAAP
Leonora: Ah, é?
Matangra: Você já tinha gravado outra coisa ou não? Porque está girando.
Leonora: Já, gravei o Emílio.
Matangra: Está girando aqui, porque acho que grava quase seis horas, não é?
Leonora: Não, acho que são 60 minutos.
Matangra: Olha hein...depende da velocidade que você põe, ele grava um tempão.
Leonora: Eu pus na velocidade normal. Puxa como é difícil essa tecnologia, eu queria ter um gravador digital. Eu instalei o via voice, seria bom
Matangra: Eu tenho uma versão de uns cinco anos atrás, mas tinha que ler uns textos na configuração do programa, para o programa reconhecer o seu jeito de falar, e eu só tenho a versão em inglês, daí eu desisti, até porque meu inglês não é tão bom, eu teria que ficar praticando horas...
Leonora: Em inglês, teria que falar tudo em inglês.
Matangra: É não ia dar certo. Ah, e aquela história do Fichmann no orkut? Quem escreveu aquilo?
Leonora: Não lembro...mas a Inês, que é amiga dele, escreveu logo e esclareceu tudo, ainda bem. O Fichmann é muito interessante, atravessou toda aquela região da guerra do Golfo, Afeganistão, ainda nos anos ’70! Ele está muito bem.
Matangra: Foi a....?
Leonora: Não, aquela é a Maria Cecília, nós saímos juntas. Ela é bacana.
Matangra: Na hora em que eu vi a história, nem lembrei, mas eu lembro que depois daquilo ele apareceu lá no iadê, estava muito bem, mas depois de tanto tempo a gente nem lembra. Leonora: Ah, tem muita história. O Eddy vai fazer um livro, eu vou fazer o site...uma boa pesquisa ia levar uns dois anos!
Matangra: É mesmo. Teve aula com ele?
Leonora: Tive aulas com o Eddy no iadê, na FAAP não. Eu conheci o Eddy quando fui bandeirante, guia, essas coisas. É tudo muito engraçado! Ele foi de guia turístico numa viagem a Salvador, no meu ônibus. Daí no meio da estrada, em Além Paraíso, o nosso ônibus bate de frente com um caminhão! Foi horrível, mas sobrevivemos. Não morreu ninguém, mas quem não quebrou perna, quebrou braço ou as duas coisas, metade das pessoas teve que voltar, eu continuei com o lado esquerdo do corpo todo roxo, desde a orelha até o pé, hoje é muito engraçado lembrar da viagem!
Matangra: O Eddy já fez de tudo.
Leonora: Depois encontrei com ele no iadê, onde me deu aulas no último semestre. Fizemos um trabalho de pintura em tecido (superfície). Aí, depois de tantos anos, o encontrei num simpósio no Senac, na Scipião, foi onde ele falou do livro e conversamos sobre o iadê. Está acabando a fita...
|