O iadão São Paulo novembro de 1981 página 5
Piratas invadem o rádio
Ao contrário das rádios marginais, que infestam o mundo, a pirataria radiofônica é proibida no Brasil. Rádio pirata, neste país, é um programa de apenas uma hora de duração por semana, mas que assim mesmo procura manter certo espírito de marginalidade, fé e otimismo. Quando, ao final do ano passado, a bandeirantes FM e F.M. (F...o Moço) O coitado do Roberto Navarro foi fazer pirataria lá pelo alto; E.R.D.A. (Mar Esvoaçado Revolto da Antártida). Graças a Deus e ao Nosso Senhor, São Freqüêncio Modulado ajudou. Por lá passava o navio Excelsior FM e F.M. (Fisgou o Moço). Roberto agora trabalha para a divina e escolhedora Excelsior FM. Junto com ele está seu amiguinho, Dagomir Marquezi, e ambos conduzem a Rádio Pirata, continuando o pique que tinha na F.D.P. (Freqüência da P...) da Bandeirantes, acrescentando, no entanto, novidades para ficar mais sensacionalmente sensacional. 1º) Utilização de colagens de antigas gravações (discursos políticos, jogos de futebol, antigos comerciais, missas, etc) entre uma música e outra. O termo "pirataria"encaixa-se perfeitamente nesta utilização de fragmentos do próprio meio (rádio, TV), sem a cotidiana autorização de quem os produziu. O que a Rádio Pirata faz é jogar com contrastes, por exemplo: depois de tocar uma música sacra, entra um diálogo do filme "120 dias de Sodoma" (um filme chegado a brincadeiras papais). 2º) Criação da rádio novela: "O Destino Quis Assim", humorística tenta quebrar os padrões do romantismo barato, que sempre limitou o gênero. 3º) Divulgação da obra de Frank Zappa. Dagomir conta: "Zappa sempre foi boicotado pelas rádios brasileiras. A experiência de ouvir Zappa é uma coisa muito importante para nossas vidas (Dagomir e Navarro). A gente quer que cada vez mais pessoas participem desta experiência; por isso tocamos Zappa obrigatoriamente uma vez por semana, além de utilizarmos sua música como trilha sonora de nossa rádio novela". A produção (texto, pesquisa de sons, etc) é dividida meio a meio entre Navarro e Dagomir. Todas as quartas eles levam material para o estúdio e contam com a ajuda de vários amigos, dentre estes Carlinhos, operador de som, considerado até como um terceiro produtor dos programas. A Rádio Pirata vai ao ar todas as sextas-feiras, às 21 horas, pela rádio Excelsior FM – 90,5 mhz. Deixem-nos contentes! Pelo amor de Deus, liguem e ouçam, vocês não se arrependerão. Por Jesus Cristo, nós precisamos comer! Não deixem de ligar na sua "Excelsior a máquina do São!!!" É são mesmo!
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"Peripécias do sr Raposo na selva dos barzinhos" ou "Depoimento de Omair Raposo de Medeiros (tecladista do Raul Seixas) quanto às dificuldades de se viver de música na pátria que o pariu".
O Raposo e o piano
Era uma vez, há muito tempo atrás, um Raposo muito astuto que gostava de tocar piano. Onde quer que fosse levava seu pianinho de cauda nas costas e alegrava muito aos outros animais da floresta, apenas os anos que viviam no planalto ignoravam seu trabalho. Talvez pelo fato de o planalto estar muito longe de onde ele tocava. Raposo sempre gostou de música, em particular de piano e quando começou a aprender, sentiu na pele a primeira dificuldade: não fabricavam bons instrumentos na Floresta e ele teria que mandar vir de fora um piano de qualidade. Trabalhou, trabalhou, trabalhou e...pumba. Conseguir enfim um instrumento bom, um piano de real qualidade e beleza, vindo dos confins absconsos de além do mar.
Ninguém me ama, ninguém me que.
Mas, depois de tanto esforço para comprar e aprender piano, Raposo sentiu que escolhera uma arte difícil para aquela floresta. Ninguém valorizava a música. Por mais que se esforçasse não conseguia fazer com que lhe ouvissem e pagassem pelo seu merecido talento. E cada dia ficava mais difícil para se viver de música e Raposo ressentia-se da ignorância excessiva de todos os da Floresta. E vagava sem destino com seu pianinho nas costas. Toc-toc. _Dona Formiga, quer que trabalhe para a sra como músico? _Vai à merda! Não chega a cigarra pra encher o saco? E assim ia Raposo toc-tocando cada porta inutilmente. Em todos os lugares só se ouvia "florescotecas" de má qualidade, importadas por modismo e ouvidas por ignorância, através de equipamentos que dispensavam a presença de um músico.
A Selva dos Barzinhos
Andou quase dois dias com seu pianinho nas costas, até que...a moda das "florescotecas" passou e iniciou-se a onda dos "barzinhos", lugares onde era obrigatória a presença viva de um músico. Eram músicos por todos os lados. Tudo ia muito bem, mas com o tempo foram aparecendo instrumentistas de má qualidade e o nível musical da Selva dos Barzinhos foi caindo aos poucos e o cachê foi indo junto. _Quer receber mais, é? Pois contrato outro músico! Oh! A oferta acabou sendo maior que a procura!!! A selva dos Barzinhos foi-se desmanchando ante os olhos lacrimejantes de Raposo, que recebia com tristeza a idéia de procurar novamente outro recanto musical. E havia razão em seu entristecimento, afinal, tocara em quase todos os barzinhos da Selva... _Tanto lugar para se tocar e tanta ganância! Por que não pagam um cachê razoável? Por que não contratam só músicos bons? E lá ia Raposo , puto da vida e desesperançoso com tudo...
Final Feliz
Como todo herói de estorinhas que se preze, Raposo tinha que ter uma chance... Pois bem, numa noite ensolarada onde viam-se morceguinhos multicoloridos gorjeando no cimo das árvores e o trinar suave das gralhas cortando o os céus com suas coloridas penugens, Raposo para em meio a uma clareira e instala delicadamente o pianinho: "Pop, como pesa!" Tocou aquele dia como jamais tocara em sua vida. Seu rabo grosso e peludo balançava como um pêndulo a cada acorde, a cada subida ou descida de oitava...E, aconteceu! Um canário muito conhecido pelas redondezas o convidou para integrar seu grupo. Era Raul piu piu Seixas, famoso por seu rosnado melodioso. A PARTIR DE ENTÃO, Raposo não mais precisou carregar seu piano, nem preocupar-se com cachê ou outras coisas do gênero. Tudo era financiado pelo canário e ao invés de cachê passou a ganhar salário, não precisaria perder um dia inteiro a tentar catar uvas.Ia nma quitanda e comprava-as sem mais delongas. Raposo ainda sonha em gravar um disquinho...e roga a Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, uma graça dessas. Ainda hoje, nesta Floresta encantada, onde bruxas malvadas agem descaradamente, fazendo a inflação ultrapassar 100% e matando fadas a porrada, Raposo e seu plano prometem viver felizes para todo o sempre.
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Foto Exposição
De 29 de agosto a 07 de setembro, o Palácio de Exposições do Anhembi reuniu produtos de indústrias nacionais e internacionais, sendo eles: foto, ótica, cine e som. Com a intenção de mostrar o que há de mais avançado nessas áreas, os produtos foram distribuídos em stands, de acordo com sua função, não importando se em tais stands, ficavam uma ou mais firmas. O modo de divisão dos ramos e stands foi cuidadosamente elaborado, planejado e esquematizado, objetivando a maior facilidade de locomoção de seus visitantes, visando, desse modo, facilitar o fechamento de algum futuro "bom negócio". A fotografia, responsável por 40% de todo o material da exposição, mostrou o alto grau de sofisticação por que está passando. Mundialmente conhecida, ela é "hobby", profissão, documentação e uma das maneiras mais agradáveis de registrar eternamente momentos felizes ou qualquer outra coisa...Curiosidade como a microcâmera acoplada a uma caneta, relógio de pulso, deixou muita gente de queixo caído. A sonora, por sua vez, aproveitou o embalo e caprichou no lançamento da "love", uma espécie de câmera descartável... Foram dez dias de muita agitação, com vultosas quantias sendo tramitadas, dando chance às firmas de menor porte, de conseguir um lugar ao sol junto às demais. Segundo a opinião de nosso amado presidente, Sr Dr João Batista de Oliveira Figueiredo, "as grandes indústrias devem estender a mão às menores para, juntas ajudarem-nos a progredir". Esperamos que isso dê certo...Tem muita gente "por baixo", que está "louquinha" pra crescer.
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