LEONORA FINK
1976 - CURSO TÉCNICO DE DESENHO DE COMUNICAÇÃO
 
dadaísmo 3/17/2005 12:37 PM 17/03/05 - orkut

Quem se lembra do Dia do Dadaísmo?


Matangra
eu lembro ! 3/17/2005 6:56 PM
o Caracol (Wilsinho) que organizava ali no gramadão da av Paulista. Batemos o record mundial de cadeirão ! Acho que eram mais de 100 pessoas sentadas uma no colo da outra, formando um grande circulo. Depois de alguns segundos todo mundo caiu que nem domino...


Celia Barros
Performances 3/18/2005 6:18 AM
Eu me lembro que tinha um cara sentado no chão, logo atrás da porta que dava acesso à escadaria, tocando violão só de cueca, no escuro e uma pequena vela acesa em frente dele... Olha a viagem...


Leonora
Dada 3/20/2005 12:01 PM
Também fizemos, entre 74/76, estudos sobre o Dadaísmo, no final da pesquisa montamos um jornalzinho com o manifesto, obras, comentários. Pelo que lembro tivemos uma semana Dada, com filmes, aulas sobre o movimento, pode ter sido realizada para aproveitar alguma exposição importante sobre o assunto na cidade, alguém de 74/76 tem o jornal ou lembra de alguma coisa?

---------------------------------------------------------------------------------

Sobre o DADA

DADA

Argan, Giulio Carlo. El Arte Moderno. Valencia: Fernando Torres Editor. 1977.
página 430, volume II.


As primeiras objeções ao racionalismo cubista nasceram dentro do próprio Cubismo. Havia sido definida uma nova estrutura formal, porém a arte continuava sendo uma investigação cognitiva e as obras cubistas, apesar de sua característica revolucionária, eram “obras de museu”. As objeções se referiam, mais que a problemas de conceito, aos procedimentos.
Duchamp, com seu Nu Descendo a Escada , Delaunay com suas Torres Eiffel , os Futuristas e, em geral, as vanguardas, haviam tentado animar a representação dando-lhe uma dinâmica funcional própria, porém o resultado era só o passo da representação da quietude à representação do movimento. Não se havia produzido nenhuma revolução mais que dentro da concepção histórica da arte como forma e da forma como objeto. E sendo a arte produção de objetos, sua razão social seguiria sendo imutável, porque na sociedade burguesa, o objeto é mercadoria, a mercadoria riqueza e a riqueza, autoridade e poder. Apesar de seus propósitos revolucionários, o Cubismo, que conservava e inclusive reforçava a concepção da arte como produtora de objetos de valor, se integrava no sistema de valores constituídos. O próprio Duchamp quem levou ao limite a crítica do Cubismo. Com seu famoso Mariée, que não é um quadro, nem “objeto”, sim uma mescla de imagens sobre placas transparentes superpostas, tenta separar a idéia da arte da idéia de forma e,
ao mesmo tempo, destruir ironizando-a, a analogia cubista entre funcionamento da obra de arte e funcionamento das máquinas, fazendo da obra uma máquina, que, antecipando a terminologia surrealista – poderia chamar-se “de funcionamento simbólico”. Ao mesmo tempo, (1913), Franz Picabia (1879-1953) lança a idéia de uma arte “amorfa”, que não é nada mais que um gesto.
“É uma arte que quer colocar a atenção do objeto no sujeito, do produto no produtor. Uma arte diferente sempre de si mesma. Um artista que prefere, em sua própria vida, ser um nômade.” (Fagiolo).
Duchamp e Picabia, a quem se une o pintor e fotógrafo americano Man Ray, (nascido em 1890), fundam a revista “291”, que antecipa muitos temas do movimento Dadaísta, ao que se unirão em 1918. Dada nasce em Zurich em 1916, quando o poeta romeno Tristan Tzara, os escritores alemães H. Ball e R. Huelsenbech e o pintor e escultor H. Arp fundam o Cabaret Voltaire, círculo literário e artístico sem nenhum programa, porém decidido a ironizar e desmistificar todos os valores constituídos da cultura passada, presente e futura. Até seu nome, Dada, é casual, escolhido ao abrir um dicionário ao acaso.
Sua práxis é semelhante à do Futurismo, só que no caso do Dadaísmo, se trata de uma vanguarda negativa porque não pretende senão demonstrar a impossibilidade de qualquer tipo de relação entre a arte e a sociedade.
Posto que existe um conceito de Arte e objetos e técnicas artísticas, há que contestar tudo isso; a arte autentica será a antiarte. Um movimento artístico que negue a arte é um contra-senso e Dada é este contra-senso.
Ao negar todo o sistema de valores, se nega a si mesmo como valor e também como função, já que a função é uma ação com um fim e um valor. Limita-se assim à pura ação, imotivada e gratuita, porém desmistificadora frente aos valores constituídos. Dada não quer produzir obras de arte e sim se produzir em intervenções em cadeia deliberadamente imprevisíveis, insensatas e absurdas.
A reação psicológica e moral ante a guerra leva a seu extremo a polêmica contra a sociedade da época. A guerra era um fato contraposto ao racionalismo sobre o que se pretendia que estivesse fundado o progresso social; os intelectuais que queriam separar sua responsabilidade da das classes dirigentes que a haviam querido, tinham que tomar uma posição e as únicas posições possíveis eram duas:
Primeira, considerar a guerra como um passo em falso, como um desvio fatal da linha ”racional” da história e então tinha que voltar a levar a sociedade ao caminho da razão mediante uma ação mais ou menos enérgica (reforma ou revolução). A arte deveria contribuir neste retorno à razão transformando-se, já que, estabelecido pelo pensamento romântico como irracional, era todavia, uma exceção no sistema racional da sociedade moderna.
Esta era a tese das vanguardas históricas, das correntes construtivistas e, mais tarde, da arquitetura racional e o desenho industrial.
Segunda, considerar falsa a direção da civilização e considerar a guerra como a conseqüência “lógica” do progresso científico e tecnológico; então havia que negar toda história passada e todo projeto de história futura, tinha que voltar ao ponto zero.
Esta era a tese Dadaísta. Ademais era o primeiro indício desta “contestação global”, que depois da segunda guerra mundial se manifestará como vontade de remover todas as “censuras” racionais e liberar a sociedade das superestruturas de autoridade e poder, é dizer, dos valores institucionalizados.
Assim se explica porque muitos movimentos artísticos atuais, que tendem a rebater o sistema capitalista, invocam mais ou menos explicitamente o precedente dadaísta.
Ao separar o impulso e o ato estético iniciais de toda história da arte, o Dadaísmo recusa qualquer experiência formal ou técnica precedente.
De todo modo, retornar ao ponto zero não quer dizer voltar ao ponto de partida remontando todo o recorrer da história. Com suas intervenções inesperadas e aparentemente gratuitas, o Dadaísmo se propõe ações de perturbação cuja finalidade é por o sistema em crise, utilizando contra a sociedade seus mesmos procedimentos ou usando num sentido contraditório as coisas às que ela atribuía algum valor. Ao renunciar às técnicas especificamente artísticas, os dadaístas não duvidam de servir-se dos materiais e das técnicas de reprodução industrial (Man Ray, a fotografia, e Richter, o cinema)evitando de todas as formas, o servir-se deles segundo modos habituais e, por assim dizer, prescritos. Esta intervenção desmistificante ataca aos valores indiscutíveis, canônicos, aceitos de geração em geração; quando Duchamp propõe bigodes à Gioconda de Leonardo, não quer destruir uma obra prima e sim contestar a veneração que a opinião comum lhe atribui passivamente.
A negação das técnicas como operações programadas com uma finalidade tem seu ponto culminante no Ready Made de Duchamp: um objeto qualquer (um escorredor, um urinol, uma roda de bicicleta) apresentados como se fossem obras de arte. Se, com a Gioconda bigoduda se desvaloriza algo ao que normalmente se atribuía valor, com o Ready Made se dava valor a uma coisa que habitualmente não o tinha. Tanto em um caso como no outro, não há procedimento operativo senão uma troca de sentido intencionalmente arbitrário. Se a Gioconda bigoduda representa a pars destruens do Dadaísmo, o Ready Made representa sua pars construens.
Duchamp expôs um urinol assinando-o com um nome qualquer, MUTT. De todo modo, ao assinar, quis dizer que aquele objeto não tinha um valor artístico em si, senão o que assumia com o julgamento formulado por um sujeito. Porém, como o formula se não dispõe de modelos de valor? De fato, se limita a separar o objeto do contexto que lhe é habitual e no que ele realiza uma função prática. Arrancando-o de um contexto em que, ao ser todo utilitário, nada pode ser estético. O que determina o valor estético já não é um procedimento técnico, sim um ato mental, uma atitude distinta frente à realidade.
Agora bem, a disputa do belo e do útil era velha, porém na época dos primeiros ready made, a teoria do desenho industrial ainda não havia nascido.
Quando se formula, na Bauhaus, se fará em termos antitéticos aos do ready made de Duchamp. Se afirmará que a qualidade estética do objeto deve ser a forma de sua função e que a forma estética e a utilidade prática são o resultado do mesmo processo; portanto, o valor artístico se alcança mediante, e não contra a tecnologia industrial e a produção. A participação dos artistas no ciclo industrial terá como finalidade a qualificação estética do ambiente da vida social e, portanto, a integração total do indivíduo no espaço funcional da sociedade: os artistas tentaram criar um ambiente propício à liberdade individual, porém se tratará de uma liberdade dentro dos limites de uma organização racional da existência. Para os Dadaístas,. ao contrário, o ambiente não tem em si nenhuma qualidade estética, porém cada indivíduo pode interpretar e experimentar esteticamente as coisas que o compõem desviando-as da finalidade utilitária que lhes dá uma sociedade igualmente utilitária.
A atividade especificamente estética não tende a modificar as condições objetivas da existência, e sim a proporcionar o modelo de um comportamento livre de todos os tipos de condicionamento.
Se cada indivíduo pode se comportar de maneira artística sempre que rompa o círculo das regras sociais, ser artista já não significa exercer uma profissão que requer uma certa experiência técnica, sim o chegar a ser livres. A arte, ao ser liberdade de toda obrigação, é jogo; o jogo contradiz a sociedade de qualquer ação utilitária, porem, colocado que a liberdade é o valor supremo, só ao julgar-se, atua com autentica seriedade.
Esta é, uma vez mais, e levada às últimas conseqüências, a idéia de Schiller da arte como jogo e do jogo como liberdade.
Também o jogo tem suas técnicas, se bem que distintas das regras “sérias”; ou, quem sabe, as mesmas, porém interpretadas e praticadas livremente. Precisamente porque o Dadaísmo atua por surpresa, sua tática exige uma variedade de meios técnicos livre de prejuízos.
Inclusive ao separar (como aqui nós nos vimos obrigados a fazer) as operações plásticas ou visuais, das poéticas, as teatrais, as gráficas ou as verbais, é um erro; entre estes diversos tipos de intervenção não há analogia ou paridade senão simplesmente indistinção. Não se pode dizer se os objetos dadaístas de Arp – consistentes em painéis recortados e coloridos, superpostos – são esculturas, pinturas, relevos ou colagens: são formas não geométricas, manchas que poderiam ser casuais, porém a elas se dá consistência plástica de objetos “sérios”.
Os Dadaístas contrapõem a causalidade à racionalidade do projeto, porem não convertem em duas categorias opostas e distintas, a lógica e o casual, entre as que se voltaria a estabelecer, necessariamente, uma relação dialética; a lógica é uma das muitas possíveis interpretações da “lei da casualidade”. K. SCWITTERS (1887-1948) não vê nenhuma contradição entre Dada e o Construtivismo do De Stijl e da Bauhaus; ARP colabora com El LISSITZKY e com T. van DOESBURG. A técnica da qual se serve Schwitters é originariamente a collage cubista; porém, aos cubistas, a collage servia para mostrar que não há separação entre o espaço real e o da arte, razão porque as coisas da realidade podem passar à pintura sem trocar sua substancia, para Schwitters não existe problema do espaço, a obra é só um lugar de onde desembocam e se incrustam as coisas mais díspares. Seu Opus Magnum é o Merzbau (também o termo merz é casual, como Dada), uma espécie de coluna, quase um totem, feita de coisas encontradas casualmente e agregadas a outras semelhantes pouco a pouco. Seus quadros (se podem ser chamados assim) estão compostos por tudo o que, ao ser posto diante de seus olhos ou ao alcance de suas mãos, há chamado sua atenção durante um instante e há tomado um momento de sua existência: bilhetes usados de trens, fragmentos de cartas, cordões, tampas, botões, etc.
Dentro do quadro, estas coisas encontradas casualmente se dispõem em uma ordem quase geométrica.
A ordem não é em si um erro, é um erro a ordem que reflete um esquema abstrato. A realidade que se ordena no quadro formando um novo contexto não é mais que existência, e, em si, não é ordem nem desordem. As coisas que Schwitters recolhe e combina no quadro que está fazendo, a sociedade descartou porque não serviam mais, porque já haviam realizado suas funções e nem sequer tiveram o cuidado de destruí-las, porque para a “sociedade de consumo”, a realidade se divide no “por consumir” e o “consumido”.
Não há nenhum gesto piedoso ou patético no gesto de recolhê-las, sobretudo se tivermos em conta que não pretende revelar nenhuma beleza oculta nelas. Porém, posto que são coisas “vividas”, terão no quadro uma relação que não é a conseqüência lógica de uma função organizada, sim a intrincada e, sem dúvida, claramente legível trama da existência.

traduzido para o português por Leonora


voltar a busca