LEONORA FINK
1975 - CURSO TÉCNICO DE DESENHO DE COMUNICAÇÃO
 
material cedido pela professora Helena Guedes




colégio industrial iadê
curso técnico de desenho de comunicação apostila nº 1.04.01
disciplina: português
elaborada por: departamento teórico
transcrita do livro: Os Lusíadas – Luiz Vaz de Camões; Primeiras Estórias – João Guimarães Rosa; Antígona – Sófocles; Aquele que diz sim, Aquele que diz não – Bertold Brecht; Poesia Moderna;
para fins didáticos de circulação interna.


Gêneros Literários

Oferta

Saibam quantos este meu verso virem
que te amo
do amor maior
que possível for


Canção e Calendário

Sol de montanha
Sol esquivo de montanha
felicidade
teu nome é
Maria Antonieta d’Alckmin

No fundo do poço
no cimo do monte
no poço sem fundo
na ponte quebrada
no rego da fonte
na ponta da lança
no monte profundo
nevada
entre os crimes contra mim
Maria Antonieta d’Alckmin

Felicidade forjada nas trevas
entre os crimes contra mim
Sol de montanha
Maria Antonieta d’Alckmin

Não quero mais as moreninhas de Macedo
não quero mais as namoradas
do senhor poeta
Alberto d’Oliveira


Convite

Escuta este verso
qu’eu fiz pra você
pra que todos saibam
qu’eu quero você


Imemorial

Gosto do pudor de minha mãe
Estrela de abas abertas
Não sei quando começaste em mim
em que idade
em que eternidade
em que revolução solar
Do claustro materno
eu te trazia no colo
Maria Antonieta d’Alckmin

Te levei solitário
nos ergástulos vigilantes da ordem intraduzível
nos trens de subúrbio
nas casas alugadas
nos quartos pobres
e nas fugas

Cais de minha vida errada
certeza do corsário
porto esperado
coral caído
do oceano
nas mãos vazias
das plantas fumegantes

Quero você
Não quero mais
crucificadas em meus cabelos
Quero você

Não quero mais
a inglesa Elena
Não quero mais
a irmã da Nena
Não quero mais
a bela Elena
Anabela
Ana Bolena
Quero você

Toma conta do céu
toma conta da terra
toma conta do mar
toma conta de mim
Maria Antonieta d’Alckmin

E se ele vier
defenderei
E se ela vier
defenderei
E se eles vierem
defenderei
E se elas vierem todas
numa guirlanda de flechas
defenderei
defenderei
defenderei

Cais de minha vida
partida sete vezes
Cais de minha vida quebrada
nas prisões
suada nas ruas
modelada
na aurora indecisa dos hospitais
Bonançosa bonança

Mulher vinda da China
para mim
vestida de suplícios
nos duros dorsos da amargura
para mim
Maria Antonieta d’Alckmin

Teus gestos saíam dos borralhos incompreendidos
que tua boca ansiosa
de criança repetia
sem saber
Teus passos subiam
das barrocas desesperadas
do desamor
Trazias nas mãos
alguns livros de estudante
e os olhos finais de minha mãe.


Porém já cinco sóis eram passados
Que dali nos partíramos cortando
Os mares nunca de outrem navegados,
Prosperamente os ventos assoprando,
Quando hua noite, estando descuidados
Na cortadora proa vigiando,
Hua nuvem, que os ares escurece,
Sobre nossas cabeças aparece.

Tão temerosa vinha e carregada,
Que pos nos corações um grande medo;
Bramindo, o negro mar de longe brada,
Como se desse em vão nalgum rochedo.
”Ó Potestado (disse) sublimada:
Que ameaço divino ou que segredo
Este clima e este mar nos apresenta,
Que mor cousa parece que tormenta?”

Não acabava, quando hua figura
Se nos mostra no ar, robusta e válida,
De disforme e grandíssima estatura;
O rosto carregado, a barba esquálida,
Os olhos encovados, e a postura
Medonha e má e a cor terrena e pálida;
Cheios de terra e crespos os cabelos,
A boca negra, os dentes amarelos.

Tão grande era de membros, que bem posso
Certificar-te que este era o segundo
De Rodes estranhíssimo Colosso,
Que um dos sete milagres foi do mundo.
Cum tom de voz nos fala, horrendo e grosso,
Que pareceu sair do mar profundo.
Arrepiam-se as carnes e o cabelo,
A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo!

E disse: “Ó gente ousada, mais que quantas
No mundo cometeram grandes cousas,
Tu, que por guerras cruas, tais e tantas,
E por trabalhos vãos nunca repousas,
Pois os vedados términos quebrantas
E navegar meus longos mares ousas,
Que eu tanto tempo há já que guardo e tenho,
Nunca arados de estranho ou próprio lenho:

Pois vens ver os segredos escondidos
Da natureza e do húmido elemento,
A nenhum grande humano concedidos
De nobre ou de imortal merecimento,
Ouve os danos de mi que apercebidos
Estão a teu sobejo atrevimento,
Por todo o largo mar e pela terra
Que inda hás-de sojugar com dura guerra.

Sabe que quantas naus esta viagem
Que tu fazes, fizeram, de atrevidas,
Inimiga terão esta paragem,
Com ventos e tormentas desmedidas.
E da primeira armada, que passagem
Fizer por estas ondas insofridas,
Eu farei do improviso tal castigo,
Que seja mor o dano que o perigo!

Aqui espero tomar, se não me engano,
De quem me descobriu suma vingança.
E não se acabará só nisto o dano
De vossa pertinace confiança:
Antes, em vossas naus vereis, cada ano,
Se é verdade o que meu juízo alcança,
Naufrágios, perdições de toda sorte,
Que o menor mal de todos seja a morte!

E do primeiro Ilustre, que a ventura
Com fama alta fizer tocar os Céus,
Serei eterna e nova sepultura,
Por juízos incógnitos de Deus.
Aqui porá da Turca armada dura
Os soberbos e prósperos troféus;
Comigo de seus danos o ameaça
A destruída Quíloa com Mombaça.

Outro também virá, de honrada fama,
Liberal, cavaleiro, enamorado,
E consigo trará a formosa dama
Que o amor por grão mercê lhe terá dado.
Triste ventura e negro fado os chama
Neste terreno meu, que, duro e irado,
Os deixará dum cru naufrágio vivos,
Para verem trabalhos excessivos.

Verão morrer com fome os filhos caros,
Em tanto amor gerados e nascidos;
Verão os Cafres, ásperos e avaros,
Tirar à linda dama seus vestidos;
Os cristalinos membros e preclaros
À calma, ao frio, ao ar verão despidos,
Despois de ter pisada, longamente,
Cós delicados pés a areia ardente.

E verão mais os olhos que escaparem
De tanto mal, de tanta desventura,
Os dous amantes míseros ficarem
Na fervida e implacabil espessura.
Ali, despois que as pedras abrandarem
Com lágrimas de dor, de mágoa pura,
Abraçados, as almas soltarão
Da formosa e misérrima prisão.”

Mais ia por diante o monstro horrendo,
Dizendo nosso fados, quando, alçado,
Lhe disse eu: “Quem és tu? Que esse estupendo
Corpo, certo, me tem maravilhado!”
A boca e os olhos negros retorcendo
E, dando um espantoso e grande brado,
Me respondeu, com voz pesada e amara,
Como quem da pergunta lhe pesara:

“Eu sou aquele oculto e grande Cabo
A quem chamais vós outros Tormentório,
Que nunca a Ptolomeu, Pompónio, Estrabo,
Plínio, e quantos passaram, fui notório.
Aqui toda a Africana costa acabo
Neste meu nunca visto Promontório,
Que pêra o Pólo Antárctico se estende,
A quem vossa ousadia tanto ofende!

Fui dos dilhos aspérrimos da Terra,
Qual Encélado, Egeu e o Centimano;
Chamei-me Adamastor, e fui na guerra
Contra o que vibra os raios de Vulcano;
Não que pusesse serra sobre serra,
Mas, conquistando as ondas do Oceano,
Fui capitão do mar, por onde andava
A armada de Neptuno, que eu buscava.

Amores da alta esposa de Pleu
Me fizeram tomar tamanha empresa.
Todas as Deusas desprezei do Céu,
Só por amar das águas a Princesa.
Um dia a vi, co as filhas de Nereu,
Sair nua na praia: e logo presa
A vontade senti de tal maneira,
Que inda não sinto cousa que mais queira.

Que fosse impossibil alcançá-la,
Pela grandeza feia de meu gesto,
Determinei por armas de tomá-la
E a Dóris este caso manifesto.
De medo a deusa então por mi lhe fala;
Mas ela, cum fermoso riso honesto,
Respondeu: “Qual será o amos bastante
De Ninfa, que sustente o dum Gigante?

Contudo, por livrarmos o Oceano
De tanta guerra, eu buscarei maneira
Com que, com minha honra, escuse o dano.”
Tal resposta me torna a mensageira.
Eu, que cair não pude neste engano
(Que é grande dos amantes a cegueira),
Encheram-me, com grandes abondanças,
O peito de desejos e esperanças.

Já nóscio, já da guerra desistindo,
Huia noite, de Dóris prometida,
Me parece de longe o gesto lindo
Da branca Thetis, única, despida.
Como doude corri, de longe abrindo
Os braços para aquela que era vida
Deste corpo, e começo os olhos belos
A lhe beijar, as faces e os cabelos.

Oh! Que não sei de nojo como o conte!
Que, crendo ter nos braços quem amava,
Abraçado me achei cum duro monte
De áspero mato e de espessura brava.
Estando cum penedo frente a frente,
Que eu pelo resto angélico apertava,
Não fiquei homem, não, mas mudo e quedo
E, junto dum penedo, outro penedo!

Ó Ninfa, a mais formosa do Oceano,
Já que minha presença não te agrada,
Que te custava ter-me neste engano,
Ou fosse monte, nuvem, sonho ou nada?
Daqui me parto, irado e quase insano
Da mágoa e da desonra ali passada,
A buscar outro mundo, onde não visse
Quem de meu pranto e de meu mal se risse.

Eram já neste tempo meus Irmãos
Vencidos e em miséria extrema postos,
E, por mais segurar-se os Deuses vãos,
Alguns a vários montes sotopostos.
E, como contra o Céu não valem mãos,
Eu, que chorando andava meus desgostos,
Comecei a sentir do Fado immigo,
Por meus atrevimentos, o castigo.

Converte-se-me a carnr em terra dura;
Em penedos os ossos se fizeram;
Estes membros, que vês, e esta figura
Por estas longas águas se estenderam.
Enfim, minha grandíssima estatura
Neste remoto Cabo converteram
Os Deuses; e, por mais dobradas mágoas,
Me anda Thetis cercando destas águas.”

Assi contava; e, cum medonho choro,
Súbito de ante os olhos se apartou.
Desfez-se a nuvem negra, e cum sonoro
Bramido muito longo o mar soou.
Eu, levantando as mãos ao santo coro
Dos Anjos, que tão longe nos guiou,
A Deus pedi que removesse os duros
Casos, que Adamastor contou futuros.


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