redação criativa
pg 18
carta de uma mãe a seu filho esquecido a você todo um sonho de um menino tristonho. salve o eterno finito, salve a morte daquele imortal amor; daquele daquela criança amor que foi ódio, criança-adulto, cheia de mágoas. salve o sol no dia de chuva; salve a glória do inglório. palmas para aquele inapto que tudo fez. vivas para a alegria de um choro; choro sem nexo. esqueça a criança morta pelo frio; afinal você tem o cobertor na cama, a lareira; e o seu copo de conhaque preferido. você tem tudo e não tem nada. você é o tudo e é o nada. e ela a criança que nada tem??~! ela morre pelo prato de feijão; ela morre pela coberta existente porém impossível. criança que vive num "paraíso" do inferno, você que manda no inferno do seu paraíso. salve~ salve você finito eterno, salve a morte do teu imortal amor, criança, palmas a você por aquele amor que foi salve você, criança-adulto. palmas a você pelo sol no dia de você, criança, o inapto que tudo e a nós todos a glória do inglório. ódio, chuva; fez.
andréia riecken, 17 anos, lQ ano me
pg 19
mundo de ontem, algo de suportável, um lugar quase ideal, mas não um paraíso. mundo de hoje, muito pior que o de ontem, muito menos suportável, quase um inferno. o que vai ser? reconstruindo o mundo de ontem, talvez possamos obter um lugar com uma porcentagem bem maior de coisas boas, mas não é essa a solução ideal. e se reconstruirmos o de hoje? não reconstruir um inferno? um lugar sujo? talvez a solução seja fácil, colher o lado positivo de cada um desses mundos, e construir um novo, onde aS coisas boas arrasadas pelo tempo, ressuscitam. mas quem pode fazer isso? aS pessoas? mas as pessoas se modificam com o mundo em que vivem, e elas são quase inúteis. primeiramente, cada um de nós tem que tomar consciência do que faz e do que pode fazer. feito isso, o próximo passo é reconstruir esse mundo através de pessoas conscientes e dispostas a melhorar o lugar em que vivem. do que servem pessoas sadias num mundo podre, e do que servem pessoas podres num mundo sadio? hoje cada um pensa só em si. se aS condições financeiras estão boas, e a pessoa que se ama está ao nosso lado, e se a consciência de cada um está quase tranqüila, as pessoas pouco se importam com aquelas que precisam de ajuda. num mundo onde as pessoas são assim tão egoístas, o resultado - só pode ser um: pessoas podres, mundo perdido; e esse mundo é o reflexo dessas pessoas.se a solução que eu dei é ideal? talvez. quem sabe se amanha eu não poderei ajudar na construção de um novo mundo?
heloisa martinelli séligson, 16 anos, 1º ano ta
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todos nós obedecemos a um círculo vicioso: nascemos, vivemos, e morremos temos um ontem, um hoje e um amanhã. um ontem no qual nascemos, temos as primeiras experiências da vida, aprendemos a andar, falar, comer, sorrir, brincar... aprendemos a fazer as coisas por uma necessidade, fazemos sem saber o porquê' daquilo que estamos fazendo; é no ontem que as coisas, e tudo para nós, eram flores, era tudo colorido, as pessoas eram amigas e doces... temos um hoje, um hoje que tem sentido muito complexo, pois é nele que aprendemos a viver realmente, é nele que sentimos mais de perto o sentido do ontem, aprendemos a ver a verdadeira cor que cada coisa deve ter e que tem; é no hoje que aprendemos a ver bem as coisas do jeito que elas são, sem fazermos uma fantasia em torno delas; é no hoje que podemos ver o nosso ontem o nosso hoje e o nosso amanhã. é no hoje que nos conscientizamos que: nascemos ontem, vivemos hoje e morreremos amanhã. é no hoje que experimentamos a realidade e a vemos bem perto sem que queiramos, aprendemos a ver quem é o nosso amigo de verdade, o amigo de ontem, de hoje e de amanhã. é no hoje que podemos ver como estará nossa situação no amanhã. temos mais condições para fazer isto, pois estamos bem lúcidos e conscientes da vida, da vida como ela é, apesar de a cada dia nós temos experiências marcantes que se acumulam para o amanhã, amanhã que a gente pensa que está longe, mas nem sempre é assim, pois o amanhã pode ser hoje.
juciara matos prates, 15 anos, 1º ano tb
pg 21
tempos passados. por volta do século XVIII. as mulheres mais femininas e submissas fazem uma moda de anquinhas, babados, e uma infinidade de acessórios para acentuar a silhueta. era a época das grandes valsas, dos grandes bailes, do romantismo. dá-me a honra da contra-dança? imagine um sujeito qualquer grande gozado. hoje em dia falando dessa maneira as casas cheias dos rococós, dos enfeites e lustres maravilhosamente grandes davam um toque de nobreza a qualquer lugar. tudo contribuía para que o lírico e romântico namorado, pudesse fazer suas promessas de amor: meu amor é tão grande quanto a lua. vê que maravilhoso brilho ela tem.. se acontecesse de um rapaz fazer uma declaração de amor hoje, seria bem capaz de receber esta resposta: sim, vejo a lua e um lindo astronauta acenando lá de cima. a mulher tinha que manter-se sempre feminina. ou dar até aqueles toques dramáticos: a onda dos desmaios. não seria a melhor forma de se ver nos braços de seu amado? hoje em dia o cara viraria para a gentil donzela e diria: - corta essa ou você me acha com cara de tarzan? mas era assim mesmo. o homem era muito mais voltado para a natureza naquele tempo.e a vovó diria: não se fazem mais homens como antigamente. porém o tempo passou. e a saia encurtou. e a mulher tornou-se mais livre. senão, do que adiantaria o woman's lib? (cá prá nós; isto deixa muitos homens uma vara).
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a gíria foi criada. a geração coca-cola; os bailes de iê iê iê, e a liberdade foram crescendo. e as fábricas de motos também. o homem já não sabe se morre de tanto trabalhar ou se trabalha para correr. e hoje, milhares de pessoas se fazem esta pergunta diariamente: o que será o amanhã? muitos acham que o homem voltará às origens. Há uma controvérsia: o homem chegará a tal ponto, em que se trocarão braços e pernas, à vontade do freguês. meu cérebro está enferrujado. preciso trocá-lo ou então estou surda, preciso de uma orelha nova ou ainda minha namorada é alta, quero um par de pernas altas, para que possa alcançá-la. os homens pegarão um táxi-frota daqui a morte para uma breve visita.e todos estarão sempre novos e impecáveis. só se saberá sua verdadeira idade, na hora em que ela morrer. ela tinha umas peças ainda tão novas. como era.uma pessoa maravilhosa. nunca vi uma ruga nela. então os nossos astronautas estarão ultrapassados e as pessoas do ano 2.000 dirão: não se fazem mais astronautas como antigamente vovos
maria cristina jean billi, 18 anos, 1º ano mb
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fulano nem sabia como viera parar ali. tão absorto estava seus pensamentos, que deixou suas pernas conduzirem-no livremente. e agora estava num parque. olhou atentamente a grama verde e molhada sob seus pés, e logo percebeu que não era o único a observá-la. perto dele se encontrava uma criança. uma menina que não aparentava ter mais que oito anos. não muito longe havia alguns garotos, bem mais velhos, que se divertiam jogando bola e correndo pelo parque. o alheamento daquela menina em relação às outras crianças o intrigou. aproximou-se e perguntou: - o que você está olhando? foi inútil. não obteve resposta alguma. teve a impressão de que ela não o havia ouvido, mas não insistiu. passou a observá-la atentamente, a fim de descobrir o que a atraía tanto. percebeu que ela tinha o olhar preso às gotas que desciam por entre as folhas de grama. parecia fascinada pelo seu brilho. comparou-a si próprio na busca de sensações e respostas. ela observava as gotas, enquanto ele a observava. todo dia ia ao parque e encontrava-a sempre no mesmo lugar, fazendo sempre o mesmo: observando. às vezes um dos garotos a convidava para brincar, mas assim como aconteceu a fulano, nunca obtinha uma resposta, apenas uma muda negativa. a pequena garota parecia deliciada apenas pelo fato de estar ali, fazer aquilo, aparentemente não fazendo nada.
marisa sanematsu, 16 anos - 1º ano mc
pg 24
cont./
fulano sabia que a garotinha era uma espécie de alma gêmea que se comunicava com ele sem gestos, palavras ou olhares. comunicava- se apenas pelo fato de estar ali, a observar. sabia também que ela era uma criança que havia parado em seu processo natural de evolução, e ao mesmo tempo evoluíra fantasticamente. era uma criança com a pureza de um recém-nascido e uma inteligência superior a dos homens, simplesmente por não ter crescido. mas um dia, fulano foi ao parque, e não a encontrou em seu lugar de costume. procurou-a incansavelmente até achá-la andando de bicicleta com os outros garotos, que já não pareciam mais velhos que ela. uma grande tristeza invadiu fulano. pela primeira vez ele havia achado alguém que não lhe causava desprezo. pela primeira vez fulano havia amado um ser humano, e agora o perdeu, mas ele,no fundo, sempre soube que isso aconteceria: mais cedo ou mais tarde a sua pequena menina tinha que crescer.
marisa sanematsu, 16 anos, 1º ano me
pg 25
cenas de um casamento
deixando a geladeira aberta como sempre o faz, correu até a sala gritando: - meu paletó xadrez, alcinda mais do que depressa, numa demonstração inequívoca de amor e fidelidade aparentes, a bela alcinda, mulher de peso e prendas, dirigiu-se ao guarda-roupa e apanhou o paletó muito bem passado do querido tancredo, um marido dentro dos padrões normais de felicidade marital de classe média. o homem, na sala, parara para pensar, e eis que de repente, não mais que de repente, surge alcinda escada abaixo como um anjo descendo dos céus, dentro de seu surrado par de tamancos, passo-a-passo; apenas o ruído cantochão dos tamancos e o trânsito do minhocão quebravam um silêncio de morte... - cuco cuco cuco- um relógio-cuco, sempre fez parte do folclore familiar. o último degrau fora transposto e tancredo não percebeu a aproximação envolvente da mulher, visto que, seu olhar parado e seu pensamento viajando, permitiam somente absorver um sonho irrealizável. repentinamente, o paletó, vestido com todo carinho irônico característico da esposa, despertou os sentidos doméstico-conjugais de tancredo que ao percebê-lo envolvendo suas costas corcundas e alquebradas, vira-se para alcinda com o olhar semi-cerrado e galanteador de um japonês e ensaia um booo - trrêêêêmmm - ah maldita campainha quem pode ser a estas horas da manhã ?
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cont./
18 de agosto de 1975 mal foi abrindo a porta, tancredo já ia explodindo para cima de quem batia: - não tem pão! e bateu a porta voltando sorrindo para os braços da mulher. alcinda, nesse ínterim, muito assustada conseguiu reconhecer a figura do visitante, que já se retirava indignado e assustado sem dizer uma palavra sequer. com olhar e pensamento fixos na porta, alcinda sussurrou inibidamente, tapando logo a boca, como arrependimento: - chiiiil o seo onofre do supermercado... - o que você disse ó grandessíssima...loh my darlingl - retrucou nervosamente tancredo, abraçando em seguida a mulher, que se pôs a chorar como o marido, formando assim, uma poça de lágrimas de crocodilo-fêmea em volta dos dois pombinhos. mas num lance de desenfreado desespero, tancredo abruptamente - empurra a mulher contra a cadeira-do-papai traído, que se encontrava atrás dela. e como que aspirando o ar da traição, emanado das axilas da esposa, Tancredo põe-se a berrar e pular histericamente sobre o televisor a cores novinho comprado há pouco tempo de um amigo da família, ou melhor, de alcinda mais particularmente; televisor esse que se encontrava no 3º degrau da escada que dá para o telhado. tancredo até esquecera de que tinha de ir ao cinema com ele, depois do expediente da repartição. repentinamente, como que numa reação em cadeia, alcinda também é tocada por descontrolado desespero existencial (já imaginaram se o filho de alcinda não tivesse fugido para um circo, e estivesse presente em casa naquele dia
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