Texto de 1980 - Wilson e Dudu - original cedido pelo professor Luiz Fichmann, que trabalhou no iadê de 1974 a 1980, onde ministrava o curso de matemática.
Elementos para uma proposta de curso para o iadê
-Sobre definições. Sim, é necessário definir. Mas, de dentro do processo desenvolvido nos últimos anos. As bases das definições do iadê estão lançadas desde o documentão. Só que transformaram-se em letras mortas. Cabe introduzir um sopro de vida no intervalo das palavras. Fazer isso é recuperar a criação. Reconhecer e saudar com alegria a capacidade de pensar e criar, que o homem historicamente desenvolveu. E que o tornou capaz de forjar seu próprio futuro. O que possibilitou transformar sua existência num agarrar-se nas pontas da unha consciente. E é este o sentido que nos move ou prova dos nove, tende a nos mover. A noção do movimento está em que na história, só compromisso com o futuro não basta. Em nome disto, o passado foi e é ainda hoje preservado como uma muralha de pés de barro. Estar vivo e atento é traduzir em ações concretas no presente o compromisso com o futuro. Definir hoje no iadê o que nós, marmanjos de velhas e novas gerações e degenerações, temos a propor para uma geração “corn flakes” e de cabeça quase feita, é um instante extremamente peculiar de como várias visões de passado, presente e futuro vão ter que gerar uma proposta de ensino que recupere a criação e a crítica necessárias para que a moçadinha possa se compreender no mundo e revirá-lo com o vigor da juventude. Quanto a mim, assim como Trate-me Leão, também não desisto da idéia de ser feliz. Quanto ao comportamento dos alunos, espero que seja formado de acordo com o método do Chacal, neste papo de índio:
“Veio uns ômi de saia preta cheiu de caixinha e pó branco qui eles disserum qui chamava açucri Aí eles falarum e nós fechamu a cara depois eles arrepitirum e nós fechamu o corpo Aí eles insistirum e nós comemu eles.”
- Sobre os considerandos: A preocupação central disto que pretende a qualquer momento ainda não definido, mas espero que breve, transformar-se em uma proposta de curso é tornar o 1º ano do iadê num instrumento para que os alunos possam desenvolver o raciocínio e, criativamente solucionar e propor problemas. Parto do seguinte princípio: se alguém consegue reconhecer a sua posição no mundo, de como participa e se apropria da produção material da sociedade, se é capaz de refletir sobre suas atitudes e relacioná-las, ou melhor, localizá-las no percurso que o homem vem trilhando, esse cara vai encontrar o seu próprio caminho. Se é a necessidade de reprodução de sua própria vida que vai dar a conformação de suas idéias, cabe a nós abrir um espaço para que, de dentro de sua vivência, ele possa reconhecer as condições em que sua vida se desenvolve. Quem quiser enriquecer sua vida neste trajeto, vai ter que encontrar um campo fecundo de idéias que possam ser experimentadas. Quem não quiser, que coma ananás. A noção do conhecimento só será procurada se ela comparecer como uma necessidade natural para a experimentação do mundo. Para a compreensão de sua existência e a possibilidade de sua transformação. E é dentro desta perspectiva que propomos que a introdução do curso de primeiro ano seja feita por todas as disciplinas em cima de um tema central: fazer com que os alunos localizem em sua vivencia (inicialmente), os objetos de suas disciplinas. Aonde a Física, a Matemática, o Desenho, a História da Arte, o Português, etc, se manifestam no seu cotidiano. E como todas estas várias vertentes do conhecimento humano se combinam a todo momento. A apreensão da realidade se dá de imediato assim mesmo como ela é: complexa e total. Para compreendê-la, o homem desenvolveu historicamente e há de continuar, canais próprios capazes de analisar em profundidade cada um dos elementos componentes deste conjunto fantástico. Sobre que leis próprias se expressam esta estranha combinação de natureza e idéias. Daí surgiram as disciplinas como uma necessidade para se desvendar em profundidade este todo. Diretamente vinculadas às manifestações particulares deste todo. E é assim que elas devem ser apresentadas. Como vários momentos de um mesmo tempo. Que se interagem incessantemente, com leis próprias e metodologias diferenciadas. E para que os alunos possam se utilizar delas, é vital que entrem em contato imediato, no 2º grau, com o significado global de cada disciplina e com sua expressão no mundo material. Só a partir daí, vai estar aberto o processo de repensar criticamente os seus conhecimentos adquiridos, intuitivamente ou transmitidos dotá-los de significação e experimentá-los através do desenvolvimento posterior de metodologias adequadas. A fase seguinte do curso estaria pautada na seguinte preocupação: historicizar este conhecimento intuitivo. Ou seja, após localizar os fenômenos físicos (por exemplo) dentro de seu universo próximo, compreender que foi desenvolvido pelo homem um grande percurso desde que ele descobriu que a pedra caía pela força da gravidade, ou, precisando mais ainda que para entender como as coisas se movimentavam, o homem criou, através da Física, uma série de conceitos e relações que são conhecidas como cinemática, que possibilitam hoje entender como se dá o movimento de todos os corpos. E que ele (o aluno) não precisa percorrer o mesmo caminho e descobrir novamente as leis e reinventar a ciência. Existe uma metodologia desenvolvida através da qual ele pode se apropriar deste conhecimento no seu conjunto. E isto vale para todas as disciplinas. Cabe a todos nós precisarmos como pode se dar o planejamento de cada curso dentro deste eixo geral.
Wilson/Dudu
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