| Masp - Didática 75 iadê 
 continuação do trabalho de redação criativa para a exposição didática75 iadê, realizada no masp, museu de arte de são paulo, sob a direção de Pietro Maria Bardi
 
 
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 morri
 como será que tudo aquilo tinha acontecido?
 onde eu estava? tudo era tão tétrico e cinzento ao meu redor...
 eu podia ver todos, eu podia falar, eu
 morri eu estou aqui ninguém me escuta?
 de nada adiantava gritar e chorar, pois
 Já não havia mais lágrimas...
 então pude me ver, que estranha era aquela
 situação, eu parecia estar viva, mas no entanto...
 morri para quem falava; morri para quem chorava; morri para o cinzento tétrico que me rodeava.
 
 
 gisele de campos fessel, 20 anos, 1º ano tb
 
 
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 a vida é isso:
 é ver uma criança sorrir é nascer com o sol
 é a incrível vontade de sair com o vento, de
 explodir com a bomba, de crescer com as flores.
 viver é gritar alto, bem alto para o mundo
 lhe ouvir
 é ouvir um som
 é vibrar de alegria ao ver seus amigos nascer.
 inexistente, eletrizante, inacreditável.
 saber da vida é gritar baixinho, até não escutar mais nada.
 é se envolver no tempo, prender-se nas horas
 e se descobrir. descobrir cada minutinho dentro de si mesmo
 a vida é a coisa mais maravilhosa, que muito.
 gente não sabe aproveitar.
 a vida é uma explosão que nasce dentro de cada
 um, ao pasSo dos acontecimentos
 a vida é deus. é você saber vê-Io e perceber
 a sua chegada.
 é deus em você e
 é você em deus
 é o nascimento morrendo.
 é a morte nascendo.
 
 vera maria de sá moreira rocha, 16 anos, 1º ano ma.
 
 
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 ele
 é noite. novamente noite. e sobre aquele quarto
 de janela e luz vermelha, cai novamente a névoa seca da solidão
 de mais um fim de tarde sombria.
 ele novamente senta numa cadeira de silêncio on
 de repousa seu sonho...
 às vezes chora, sem esperança que o amanha nasça
 para ele.
 mas ele sempre nasce. sempre, em vez de fim,
 começa a atividade da luz, da janela, do quarto. sempre.
 com a alma alagada de recordações, pensa no que
 não fez.
 pensa, em sua tristeza doentia, nos dias
 não comeu, nas noites em que não dormiu, nas mulheres que
 que
 não
 amou.
 pensa em tudo o que não fez nascer, e em
 que deixou morrer.
 tudo
 e ele está ali, a sentir a luz cada vez
 fraca, e com o olhar fixo na esperança, deixa-se ficar.
 mais
 
 yone de carvalho, 15 anos, 1º ano ta
 
 
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 vida de encenação
 em tudo que amamos, sentimos ou esperamos, há,
 por pouco que seja, algo que não seja verdadeiro. assim como
 um semi-deus, entre a terra e os céus, que num duplo fado lhe
 deve tocar um sorriso no amor e na esperança,
 por onde passa.
 desengana-nos
 dura um breve momento. mais breve que o pensamento.
 como a encenação, a alegria é tristeza desmascarada. e
 o mesmo poço que dá nascimento ao riso, foi muitas vezes preenchido.
 por lágrimas.
 vida de encenação é do dia de hoje, ai que mal
 Soa, sombra que foge, nuvem que voa.
 não pense que essas horas são flores, que não
 pendem, não morrem no chão. pois não ha disfarce capaz de encobrir
 o amor, por muito tempo, onde ele existe, nem capaz de
 fingi-lo onde ele não existe.
 da mesma forma que ele o coroa, assim o crucifica.
 pois o pensamento é uma ave do espaço que, numa
 de palavras, pode abrir suas asas, mas não pode voar...
 gaiola
 
 scarleth yone ohara, 16 anos, 1º ano nb
 
 
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 quem és tu ?
 que vives sempre os passos repetidos,
 sem luz na tua vida,
 vida deserta, de rotina...
 transformador do mundo,
 desnorteado, sem um ideal,
 com lágrimas e risos falsos,
 uma pessoa dividida entre a vida e o inferno.
 um eu perdido,
 um sonho irreal,
 um ator sem platéia,
 embaralhado no espaço,
 homem de argila, com vontade só de partir.
 perdido, percorrendo um fio invisível,
 percorrendo sua própria perdição.
 modelo do ódio, coração de pedra.
 não é segredo o tempo te apaga dia a dia,
 no fim de cada rua, de cada esquina.
 venha cá, e diga quem és ?
 que não olhas no rosto inocente de uma criança,
 que não respiras o perfume de uma rosa,
 que não dás graças por um novo dia,
 que não sentes o calor do sol, o brilho de uma estrela.
 não, não me digas quem és tu,
 que destruiu tua própria arte de vida...
 
 maria beatriz chimenti, 18 anos, 1º ano me
 
 
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 quem é você
 quem é você?
 eu ?
 sou ser errante
 corpo ambulante
 mente sem rumo
 imagem muda
 imagem desnuda
 imagem morta
 quem é você?
 sou linha torta
 espaço vazio
 tempo frio
 objeto
 objeto
 objeto
 inútil
 fútil
 abjeto
 quem é você?
 sou cena gasta
 cena estática
 ser não-mutante
 quem sou eu ?
 não sou ninguém.
 
 martha de mello e souza, 16 anos, 1º ano mb
 
 
 
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 o grande detetive escolar de sempre
 vejo fumaça no ar, vejo a professora, que levava
 uma caneta para alguém, abraçada à lousa.
 vejo mãos e pernas de meninas arremessadas no espaço. corpos irreconhecíveis transitam, gritam e se libertam
 num tal livro criatividade.
 vejo fumaça no ar, vejo chuva de fumaça no ar. o
 ambiente leve, o ar pesado, carregado, ou será que troquei?
 vejo gente, vejo loucos ainda agarrados aos livros,
 que pensam ser a salvação.
 ó amigos, a classe é realmente um lugar de estudo
 ou um antro de libertos e descontraídos jovens loucos?
 chove agitação sobre os cordeiros de deus.
 e há diretores míopes que ainda pensam que é aula.
 
 marina r. de moraes, 14 anos, 1º ano mc
 
 
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 cigana.
 cintila, joga, empolga e furta cor e dinheiro.
 dos lugares, milhares, montanhas, cabanas, cabines...
 cachecol no pescoço, no almoço, no cascalho.
 seu baralho, um barulho... um embrulho, translúcido...
 arco-íris nos olhares, no passado-atravessado,
 atraído, uma surpresa, sem certeza
 das viagens, das passagens,
 contrabandos perfumados, com sabores perfuma--
 dos... nas montagens, as imagens...
 ao trançar, ao mechar
 os colares, as miçangas cor-de-amora,
 os cabelos, as cortinas
 nas amigas, os amores.
 
 glória kairala, 20 anos, 1º ano nb
 
 
 
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 ninguém é de ninguém
 um tudo do tudo,
 um tudo do nada,
 seria um tudo do pouco
 um pouco de uma amada.
 a amada fervente,
 a amada que ama,
 a amada que sente
 quando outra te chama.
 uma amada artificial
 é aquela que faz o amor,
 a amada real
 é aquela que sente a dor.
 uma mulher vazia
 para outra, é um horror
 se essa mulher não sabia,
 ela tem muito valor.
 um valor que eu dou
 um valor que eu gostaria de ter,
 um valor que muita mulher adotou,
 por medo de tudo perder.
 mas ela é o que é,
 e muitas outras a invejam,
 e do tudo que ela deixou
 um pouco do tudo elas desejam.
 e no pouco desse mundo,
 não me resta um vintém,
 porque no fim desse tudo
 ninguém é de ninguém.
 
 elizabeth maria araújo, 17 anos, 1º ano me
 
 
 
 
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