LEONORA FINK
1961 - CURSO TÉCNICO DE DESENHO DE COMUNICAÇÃO
 
ENTREVISTA COM A PROFESSORA MARIA IZABEL DE SOUZA FRANCO
Data da entrevista: 03 de abril de 2005


Leonora:
Eu fui gravar com o professor Paulo e não consegui ligar esse negócio, tive que ficar anotando!

Maria Izabel:
Meu Deus!

Leonora:
Multimídia e um gravador desse me deu o baile.

Maria Izabel:
E o Paulo fala que é uma coisa!

Leonora:
Eu fui anotando e cheguei em casa e completei com o resto que lembrei.

Maria Izabel:
E tem alguma coisa que você... prefere que eu discorra ou se você quer fazer perguntas?
Como é que você quer conduzir?

Leonora:
Não...é tem muita coisa que não sei de lá, por exemplo: o ano que abriu eu não sei.

Maria Izabel:
Então, vamos lá!
Hã, quem fundou o iadê? Como foi o primeiro curso e depois como ele passou para o Desenho Técnico de Comunicação?

Leonora:
Isso, e por que é que ficou o de decoração só de um ano?

Maria Izabel:
Ficou o de decoração só de um ano, mas depois que o curso já estava oficializado como curso técnico de desenho de comunicação. Ficou um ano inteiro sem curso nenhum de decoração.

Leonora:
Ahhn

Maria Izabel:
Aí foi reeditado o curso de decoração, que era de três anos...


Leonora:
Prá um ano só.

Maria Izabel:
Prá um ano.

Leonora:
Ficou só uma coisa mais específica.

Maria Izabel:
E nesse que eu fiquei como diretora e secretária.

Leonora:
Eu tenho uma prima que fez o de decoração lá também. Uma outra prima que fez o de desenho técnico de comunicação.

Maria Izabel:
É?

Leonora:
Conheço muita gente que estudou lá.

Maria Izabel:
Hãn, hãn...o iadê deixou muita lembrança. Eu tenho contato com muita gente que era professor, aluno, eu tenho contato com ex-professores, o Eddy mesmo, eu tenho falado com ele.

Leonora:
O Eddy e muita gente que está na FAAP.

Maria Izabel:
Eu tenho contato com o Ricardo Ohtake, com o Ruy menos, mas com o Ricardo eu encontro sempre.

Leonora:
O Ricardo eu sei, mas o Ruy deu aula lá?

Maria Izabel:
O Ruy deu, foi da primeira...não da segunda leva de arquitetos.

Leonora:
Ah, também?

Maria Izabel:
O primeiro arquiteto que entrou no iadê foi o Laonte Klawa.

Leonora:
Ah...


Maria Izabel:
Foi o Laonte. O Laonte entrou em 67/68, que o Laonte entrou.
Foi em 69 que o curso foi oficializado, inclusive neste livro, da Leon, fala que os arquitetos entraram em 67 no iadê, de jeito nenhum...

Leonora:
Só em 67?

Maria Izabel:
Não, o único que entrou foi o Nelson Wendling, que era do estúdio do iadê, o estúdio profissional e o Laonte dando aula, e o Bianchi ainda estava no iadê, que é o fundador do iadê.

Leonora:
O Bianchi saiu em 68 ou 67?

Maria Izabel:
Não, o Bianchi saiu em 68...
Começo de 68.

Leonora:
Então me falaram uma data errada.

Maria Izabel:
No começo de 68 que ele foi embora e em 69 o curso foi oficializado como Técnico de comunicação.

Leonora:
Ah, ele saiu antes então?

Maria Izabel:
Ele saiu antes do curso ser oficializado e os arquitetos todos entraram em 69, a grande leva de arquitetos.

Leonora:
Está aqui, me falaram 05/12/67, que o Bianchi saiu...

Maria Izabel:
5/12/67?

Leonora:
É...

Maria Izabel:
Quem te deu esta data? O Paulo?

Leonora:
Foi o Paulo.


Maria Izabel:
Foi em 5 de dezembro mesmo, mas acho que foi em 68, sabe por que?
Porque... eu tenho o catálogo de 67, ....67 apesar de que em 67....espera um pouquinho. Deixa eu ver se a Sônia ainda está aqui...

Leonora:
Final do ano...

Maria Izabel:
Eu pego o folheto, está aqui. Comecinho de janeiro de 67...o corpo docente...isso, ele ainda está aqui.
Em 68 ele já não estava, mas o curso foi oficializado em 69.

Leonora:
É sim...

Maria Izabel:
68, é, foi embora. A primeira leva de alunos entrou em 69, que é esse catálogo aqui, que foi feito, inclusive pelo Laonte e pelo Haron Cohen.
Olha aqui, olha...”o iadê completa dez anos de fundação e inicia uma nova etapa instalando o curso técnico de desenho de comunicação”...

Leonora:
A data é 69...

Maria Izabel:
É e esse catálogo.

Leonora:
Esse catálogo, quem fez?

Maria Izabel:
O Haron Cohen, ele era professor já do iadê...

Leonora:
Ele está na FAAP também agora, não é?

Maria Izabel:
O Haron está na FAAP, ele dá aulas lá atualmente.
Eu tenho só o de 65, foi quando nós viemos para o prédio na Paulista.

Leonora:
Ah é?

Maria Izabel:
Ta...foi fundado em 59 pelo Bianchi e pelo Landerset. A fundação ...o primeiro nome do professor Landerset é que eu não lembro.

Leonora:
É Álvaro.

Maria Izabel:
O Álvaro Landerset ! Isso mesmo...

Leonora:
Agora sei essas coisas...

Maria Izabel:
E o Paulo já entrou nesta época no iadê, mas não como fundador, nem como sócio, ele foi ser secretário.

Leonora:
É, ele falou...

Maria Izabel:
Depois ele passou a ser sócio também, quando eu também entrei na sociedade e tal.

Leonora:
Ele falou que entrou para secretariar o grupo, depois foi professor.

Maria Izabel:
Foi professor, foi secretário primeiro, depois ele foi professor.

Leonora:
Outra coisa, os catálogos, essas coisas, quem desenhava?

Maria Izabel:
Ah, era feito um concurso.

Leonora:
Ahh, era concurso?

Maria Izabel:
Agora...quem fazia a redação era o Bianchi.

Leonora:
Ah sei.

Maria Izabel:
O Bianchi foi inclusive, jornalista.
O iadê, no começo um dos sócios era o Oliveiros, grande jornalista do Estadão.

Leonora:
Ah é? Eu não sabia disso não.

Maria Izabel:
Foi sócio do iadê! Ele era um grande amigo do Bianchi. Teve uma época que precisou de dinheiro e tal, e ele entrou como sócio, porque ele gostava demais!
Meu trabalho de conclusão de curso foi o projeto da kitchenette do Oliveiros.
Quem fazia isso aqui [folheto] era o Bianchi. Depois o Bianchi foi embora, quem ficou como diretor foi o Emílio. O Paulo continuou como secretário. O Michiro...desde o tempo do Bianchi ele já era o tesoureiro.

Leonora:
Deixa eu escrever o nome do Michiro, qual é?

Maria Izabel:
Motoda. Isso, é com ch mesmo. Inclusive, se você quiser emprestado isso aqui...

Leonora:
Ah eu quero!

Maria Izabel:
Só que você não pode perder isso, senão...

Leonora:
Eu não, é um tesouro...

Maria Izabel:
Senão eu te mato bem matadinha...

[risos]

Leonora:
Se você visse...estão me mandando cada coisa!

Maria Izabel:
É?

Leonora:
Tem trabalho de aluno!

Maria Izabel:
M-i-c-h-i-r-o

Leonora:
M-i-c-h-i-r-o

Maria Izabel:
Uma coisa muito importante do iadê é que ninguém...

Leonora:
O Michiro Motoda foi o tesoureiro?

Maria Izabel:
Foi o tesoureiro.
...é o símbolo do iadê que é ...você sabe o que é isso?

Leonora:
É o pentágono e a mão.

Maria Izabel:
Isso, o pentágono e a mão, que é a mão espalmada, que é um pentágono e a mão direita do desenhista e isso aqui foi feito pelo Bianchi.

Leonora:
Ontem eu já procurei por isso.

Maria Izabel:
E quando passou para desenho de comunicação, o nome iadê continuou, mas desapareceu a marca iadê, que é esse símbolo aqui, que eu achava bonito demais esse símbolo. E você me perguntou quem fazia o texto geralmente era o Bianchi com a Carolina,o Emílio e tal. E depois que eles foram embora, aí era o Emílio. Aí entrou o Laonte, o Haron e tal, daí começaram. Esse aqui foi todinho quase feito pelo Haron.
A cor da capa, o Bianchi sempre fazia um concurso.
Esse eu me lembro muito bem quem fez, quem escolheu essas cores [azul e verde]...que foi a Melitta, que o nome dela está aqui.
O sobrenome da Melitta eu não sei, mas você vai achar tudo aqui, tá?

Leonora:
Tá bom...

Maria Izabel:
Porque esse, cor de laranja, de 66, era a cor oficial do iadê. Olha o diploma, que no tempo do iadê, do curso de dois anos de decoração, a gente recebia este diploma.

Leonora:
Mandaram um digitalizado.

Maria Izabel:
Ah é?

Leonora:
É bonito.

Maria Izabel:
Quem te mandou, o Paulo?

Leonora:
Não, foram os alunos.

Maria Izabel:
Ah é?
Esse foi o de 62.

Leonora:
Bonito.

Maria Izabel:
Como símbolo do iadê ficou muito registrado essa cadeira. [cadeira do iadê, em ferro e couro, design de Ítalo Bianchi, 1958/1959].

Leonora:
Ah, essa cadeira!
Muitos alunos têm essa cadeira!

Maria Izabel:
É, o Eddy mesmo tem meia dúzia. Eu estou restaurando agora, para a casa dele.

Leonora:
Ah, que legal...

Maria Izabel:
E foi esse material [cartaz com a cadeira] que eu forneci para este texto aqui [texto sobre o iadê no livro: Design brasileiro, de Ethel de Leon].

Leonora:
Quem desenhou essa cadeira foi o Bianchi também?

Maria Izabel:
O Bianchi! Só que neste texto aqui fala que ele desenhou a cadeira em 68! Foi em 59! Quando ele fundou o iadê! Ele desenhou a cadeira e mandou fazer.

Leonora:
Quer dizer que os móveis eram do começo...

Maria Izabel:
Essa cadeira, ela era muito barata porque na época o couro era barato e ferro de construção.

Leonora:
O ferro é barato.

Maria Izabel:
Ferro e couro. É...ferro de construção mesmo, de estrutura de concreto armado.

Leonora:
Um monte de gente tem e todo mundo mandou fotografias dessa cadeira.

Maria Izabel:
Esse livro foi lançado na semana retrasada. Eu fui ao lançamento desse livro e tem o texto sobre o iadê.
Tem erros aí grandes, inclusive os dados aí eu forneci para o Eddy, o Eddy passou para a moça, mas ela errou bastante coisa...tanto que o Eddy pediu para eu rever e ele vai pedir para ela recompor na segunda edição. Dados principalmente, ela pos o Wesley Duke Lee como professor – ele nunca deu aulas no iadê. É...ela pos o Eddy como aluno, ele nunca foi aluno. Eddy como aluno e não como professor.

Leonora:
O Eddy entrou no último ano que eu fiz o curso?

Maria Izabel:
Hã, hã...Foi em 76?

Leonora:
É foi em 76. Antes disso ele foi guia no meu ônibus, numa viagem pra Bahia, com as Bandeirantes. [o professor Eddy entrou no iadê em 1971]

[risos]

Maria Izabel:
O Eddy está em todas. O eddy é uma coisa incrível...
Veja, aqui ainda está o símbolo, mas depois desapareceu. Nesse ainda tinha, mas aí ele desapareceu.
Esse aqui foi desenhado pelo Laonte Klawa e o Haron Cohen [folheto de 1969].
Agora, a programação visual foi todinha...essa aqui é do Haron [folheto de 1969].
Acho que esse aqui o Ricardo e o Ruy já participaram também.
Essa foto aqui [no livro Design Brasileiro, de Ethel Leon], é essa daqui, a do cartaz anunciando o curso de decoração. Porque essa cadeira virou um símbolo do iadê, não é?

Leonora:
É sim.

Maria Izabel:
E quando foi para o livro eu quis por essa cadeira, mas ela pos como 1960 e não, ele projetou essa cadeira entre 58 e 59. Foi quando ele abriu a escola, em 59. Foram as cadeiras usadas, porque todos os móveis do iadê foram projetados pelo Bianchi.

Leonora:
É, eram bonitos.

Maria Izabel:
E o iadê sempre manteve também um estúdio profissional, além de ter os cursos de decoração, tinha o departamento profissional, onde aplicava tudo aquilo que estava sendo ensinado na escola.
Em 65, quando nós mudamos para a sede nova na Paulista, não é...a gente fez um trabalho muito importante, foi a Faculdade Getúlio Vargas.

Leonora:
Ah é?

Maria Izabel:
É, os nove andares da FGV foram projetados dentro do iadê. Foi muita coisa, salas de aula, mesa do professor, tinha quadro negro que virava tela de projeção...nossa! As salas, eu tenho o álbum, inclusive, dos desenhos.
E nessa época inclusive foi o Nelson Wendling, que é arquiteto, foi ele quem levou o Laonte [Klawa] para dentro do iadê...e o Nelson foi o primeiro arquiteto mesmo, que entrou para o iadê para trabalhar, não para dar aulas.
E depois ele levou o Laonte e o Laonte entrou dando aulas. Ele dava aula de introdução à arte moderna. Isso em...que 67 o Bianchi foi embora, 68 ele já não estava. Em 68 começaram a entrar os outros arquitetos para a gente preparar o processo para a oficialização do curso que foi oficializado em 69.
O ano de 68 foi todinho do processo de oficialização do curso, né.

Leonora:
Todo o trabalho...

Maria Izabel:
Foi muito, foi o nome do curso...porque iadê, instituto de arte e decoração.

Leonora:
Isso.

Maria Izabel:
E iadê curso curso técnico de desenho de comunicação. E ficou de comunicação por uma exigência da secretaria de educação, porque o nome certo seria: curso técnico de desenho e comunicação, porque era desenho técnico e desenho de comunicação. E foi uma luta, eles não aceitaram, não oficializaram o curso enquanto a gente não mudou o e para o de, desenho técnico, quer dizer, curso técnico de desenho de comunicação.
A secretaria da educação não conseguiu entender.

Leonora:
Que eram coisas separadas.

Maria Izabel:
É, que eram coisas separadas, muito ligadas, então acabou ficando curso técnico de desenho de comunicação.

Leonora:
Naquela época a burocracia era pior ainda...

Maria Izabel:
É, era pior ainda...
E foi na época da crise dos cursos secundários e tal... e o iadê...

Leonora:
Naquela época o governo queria reformar tudo...

Maria Izabel:
É e o iadê teve a sorte de pegar o filão que não existia, não é?
Inclusive este livro aqui fala que as aulas de química eram dadas num laboratório fotográfico, mas não era a aula de química, era a aula de física...

Leonora:
É claro.

Maria Izabel:
Em física, que era obrigado a ter no currículo, a gente dava fotografia, que era a ótica, não é, problemas de ótica. E isso é o que fez o iadê viver e ter um bom número de alunos, chegar a ter mil alunos circulando dentro do iadê em três períodos, manhã, tarde e noite.

Leonora:
O curso técnico, tinha o de administração de empresas.

Maria Izabel:
Tinha, mas o de administração de empresas foi pouco tempo e ele entrou sem...poucos alunos, ele era só à noite e não tinha muito a ver, tinha até secretaria separada, direção separada, era o Anésio. Ele tinha o curso.
É que nós tínhamos espaço ocioso e aí, como muita gente queria fazer curso de administração...

Leonora:
Tem muitos ex-alunos de desenho de comunicação, mas de administração só encontrei um...

Maria Izabel:
É? A administração era isso mesmo, tinha secretaria separada, não era a mesma secretária, não era eu, era a Valquíria, a secretária.

Leonora:
É, porque eu estudei lá e eu nem me lembro do curso. [não me lembro de muita coisa daquela época]

Maria Izabel:
É, e a secretaria era em cima, no 12º andar e em duas salas de aula no 12º andar.

Leonora:
Então a gente nem via.

Maria Izabel:
É, vocês quase não viam, porque era à noite, só tinha à noite.

Leonora:
Então, ele me escreveu porque eu não tinha posto o nome do curso...

Maria Izabel:
Quem?

Leonora:
O ex-aluno...eu falei que foi porque não sabia mesmo...

Maria Izabel:
É, mas ele teve a duração de ...eu acho que funcionou o curso de administração de empresas, o técnico de administração, eu acho que só uns quatro ou cinco anos, depois fechou.

Leonora:
Acho que só uma turma, não é?

Maria Izabel:
Não, chegou a formar acho que umas duas turmas, uns seis anos...

Leonora:
Aí fechou.

Maria Izabel:
Aí fechou, o curso técnico de desenho de comunicação, ele entrou no lugar do curso de decoração, que nessa época já era de três anos, porque ele começou no iadê com dois anos, lá na Martinho Prado, [primeiro endereço] era de dois anos. Fiz o curso lá e aí eu comecei a dar aula lá e quando nós viemos para a Paulista, quando ele veio pra Paulista ele passou a ter três anos.

Leonora:
Para poder ir para o MEC?

Maria Izabel:
É, o curso de decoração de três anos, mas ainda não foi pro MEC [ministério de educação e cultura] ainda era um curso livre.

Leonora:
Ainda não?

Maria Izabel:
Ele só foi pro MEC em 68, para ser oficializado em 69 como curso técnico.
E nós fomos para a avenida Paulista [número 2644] em 65. Ele era ainda o curso de decoração, um curso tão forte que todo mundo dizia assim: mas por que ele não tem equivalência de segundo grau?
Porque não tinha português, não tinha matemática, não tinha algumas matérias, daí a gente conseguiu introduzir, e quem dava matemática no curso eram dois arquitetos: Luiz Torres e Semi Amar. O Torres é professor do Mackenzie até hoje.

Leonora:
Ah é?

Maria Izabel:
É, depois teve que mudar para matemáticos mesmo, não é, mas no começo eram arquitetos que davam aula.
Depois tiveram muitos alunos que viraram professores do iadê.
Quantos casamentos de professores com alunos!
O Laonte Klawa mesmo, casou com uma aluna, a Cássia Machado Klawa.

Leonora:
É, o Eddy [Auresnede Pires Stephan] também se casou.

Maria Izabel:
O Eddy também, a Suely foi aluna dele.

Leonora:
É...

Maria Izabel:
O Emílio ficou no lugar do Bianchi, foi sócio, fui sócia também e dava aula, dirigia a secretaria do curso técnico de desenho de comunicação e dirigia o curso de decoração, que foi condensado. Aquele curso de três anos foi condensado num curso de um ano. E o iadê teve também vários cursos livres, que aqui nestes prospectos você vai ver. Cursos livres de História da Arte, o Paulo [Ramos Machado] começou dando aula no curso livre de história da arte. Depois que ele passou a dar o “quatro séculos de pintura”; introdução à arte moderna, que foi dado também pelo Laonte [Klawa], pela Carolina Andrade.
Aqui você tem os nomes dos arquitetos, depois a mais que entraram e aqui a turma que era antiga, não é? O Ruy Ohtake, o Sergio Ferro e outros.

Leonora:
O Sergio Ferro saiu do Brasil, não é?

Maria Izabel:
Quantas vezes eu enfrentei o DOPS no iadê prendendo professor dentro de sala de aula! Foi terrível....O Sergio Ferro saiu do iadê e foi preso.

Leonora:
Na época...

Maria Izabel:
Em 68, 69...em 69 eu enfrentei....o Benetazzo mesmo, foi morto em 69...

Leonora:
Que horror...

Maria Izabel:
Ele resistiu...foi para fora....quando ele voltou, prenderam ele....quiseram que eu fosse reconhecê-lo. Em 69 não...em 70 acho. Eu consegui dizer que não conhecia, que nunca tinha visto ele. Daí o soltaram e mandaram ele correr...

Leonora:
Ai, que horror!

Maria Izabel:
O mataram por trás...
A Carmela Gross, a Carmela dava aula no iadê e conseguiu fugir.

Leonora:
Você não falou da filosofia da escola, você sabe alguma coisa?

Maria Izabel:
Da filosofia da escola?

Leonora:
É...

Maria Izabel:
Era baseada todinha em Gropius, na Bauhaus, Gropius.

Leonora:
A Bauhaus, a gente estudou bastante a Bauhaus.

Maria Izabel:
A função define a forma.

Leonora:
É...

Maria Izabel:
E a forma define a beleza, não é?
Ergonomia, relacionamento do homem com o objeto, não é?
Daí que começou o design de objetos mesmo e tal. A relação do homem com a natureza, com o espaço, não é? É a teoria “gropiana”.

Leonora:
Essa parte em que você falou do estúdio, quem trabalhava lá? Alunos e professores?

Maria Izabel:
No estúdio profissional?

Leonora:
É.

Maria Izabel:
O estúdio era dirigido pelo Bianchi enquanto ele estava aqui.

Leonora:
Mas os professores trabalhavam lá também?

Maria Izabel:
A gente dava aula e trabalhava no estúdio, tinha gente que só trabalhava no estúdio. Eu...teve ano em que eu não dei um dia de aula, eu trabalhei só no estúdio.
O finalzinho do estúdio, eu que dirigi porque o Bianchi tinha ido embora. O Emílio dirigiu um tempo e depois ficou por minha conta. Eu dirigi o estúdio até fechar. Depois começou a ficar muito apertado, com muita aula para dar, daí o estúdio do iadê virou o laboratório fotográfico, porque a escola expandiu e o departamento profissional teve que encolher para dar espaço para a escola crescer, não é?
Porque nós não tínhamos mais do que aqueles quatro andares lá no prédio da Paulista. Então precisava de salas de aula e de laboratório fotográfico. A gente fazia projetos para fora e um dos projetos principais foi a FGV [Fundação Getúlio Vargas]. A gente fazia residências, fazia lojas, vários trabalhos profissionais, não é...então a gente dava aula, mas tinha também a...

Leonora:
É tão importante isso!

Maria Izabel:
É muito importante. Tanto que sempre, eu nunca parei de trabalhar profissionalmente, o tempo todo que eu fiquei no iadê, os 22 anos. Eu dava aula, enquanto tinha o estúdio do iadê, eu trabalhava no estúdio do iadê, não tinha mais o estúdio do iadê, eu trabalhei sozinha. Tenho meu estúdio até hoje. Trabalho até hoje, ontem mesmo ainda fiquei no trabalho até as 9 da noite.

Leonora:
Ainda bem!

[risos]

Maria Izabel:
Eu trabalho com isso e vivo disso, meus móveis mesmo, isso aqui é tudo projetado por mim. Tem um desenho que é projeto do iadê mesmo. Aquela mesinha é projeto do iadê, [a entrevista foi realizada na residência de Maria Izabel] a mesa de centro é projeto do iadê, do Bianchi. Aquele barzinho não, ´´e projeto meu, mas aquela mesinha lá ficou como...só a cadeirinha que eu não tenho porque quando eu montei o meu apartamento eu ganhei estas cadeiras dinamarquesas do Seu Léo, da Probjeto. Porque o Seu Léo é que forneceu todas as cadeiras pra FGV...e foi um problema seríssimo, porque deu problema na tecnologia da cola.
Ele teve que substituir todas e eu fui um dos canais pra ajudar o Seu Léo a ver todo o processo de cola e tal, e ele me deu meia dúzia de cadeiras. Ele também ficou com muitas cadeiras, teve problema da tecnologia da madeira brasileira com a cola dinamarquesa que ele importou.

Leonora:
A cola não funcionou...

Maria Izabel:
Porque isso aqui [Izabel mostra uma de suas cadeiras] são lâminas de madeira, é um compensado, né. Prensadas numa forma a quente...e a cola não se adaptou. Ele teve que desenvolver uma cola para o material brasileiro.

Leonora:
O pior é que ele tinha feito todas as cadeiras!

Maria Izabel:
Todas as cadeiras da FGV! O que ele substituiu de cadeiras, você não pode imaginar!
Quase que faliu a Probjeto naquela época...
Leonora:
Por causa da cola...

Maria Izabel:
Por causa da cola...

Leonora:
Ele deveria ter experimentado antes de aplicar.

Maria Izabel:
Essa lição eu nunca mais esqueci! Seu Léo também não...É uma coisa que eu levo sempre.
Assim:
_Não, mas tem uma coisa importada que é excelente, e tal...
_É? Espera lá! Vamos testar?
_Vamos.

Leonora:
Antes de comprar um monte, não é?

Maria Izabel:
Vamos testar com o material brasileiro, com o clima brasileiro não é?...com a umidade que tem aqui!

Leonora:
É porque lá não chove, não é?

Maria Izabel:
É, a gente tem a responsabilidade... o curso do iadê era muito neste sentido também. Desde o curso livre que era de três anos, os alunos recebiam apostilas de tudo isso. Com todas as medidas de como se faz um armário, sabe, tudo, tudo, tudo apostilado. Os alunos tinham o material guardado dentro do próprio iadê. Depois teve que desaparecer tudo, porque quando passou para curso de desenho de comunicação não tinha mais condição de manter armários para todos em sala de aula. Os adolescentes eram uns vândalos, não é, então depredavam tudo e a gente teve que mudar.
Não se podia mais fumar em aula, nada, essa liberdade foi tirada.

Leonora:
Na minha época ainda podia fumar...

Maria Izabel:
Do iadê eu saí no início de 83, eu trabalhei uns meses com a Cássia Klawa, no estúdio dela e depois continuei com meu estúdio.
Trabalhei com Márcio Colaferro também, que foi aluno e professor do iadê. Depois ele foi dirigente do curso de decoração do iadê, depois de mim. Ele foi aluno, depois professor e depois que o curso foi oficializado, ele ficou dirigindo o curso de decoração comigo. Ele fazia a coordenação e eu fazia a direção do curso de um ano.

Leonora:
O curso de três anos do colégio, tinha alguma especialização?

Maria Izabel:
Não, não era especialização. Desde o primeiro ano, os alunos tinham as matérias que a gente chamava de obrigatórias do segundo grau, eram as matérias de português, matemática, física, educação moral e cívica, história, geografia, biologia, etc e tal e as outras matérias específicas do curso técnico de desenho de comunicação. Aqui neste prospecto você vai ver.

Leonora:
A mais não tinha nada?

Maria Izabel:
Não, não tinha uma especialização. Não saía de lá só desenhista ou só comunicador não. Ele saía com diploma com capacidade para entrar em faculdade e para trabalhar na área de desenho e comunicação e saía bem preparado mesmo. A parte de desenho técnico era muito bem dada...e também de comunicação visual

Leonora:
Eu tive aula com a Lili.

Maria Izabel:
Com a Lili? [Eliete Mauri]

Leonora:
É, com ela e o Marcos.

Maria Izabel:
A Lili é um encanto de pessoa! E muito competente.

Leonora:
É.

Maria Izabel:
Ela trabalha até hoje.

Leonora:
Ela era ótima professora.

Maria Izabel:
A Lili começou como minha assistente. Nós fizemos faculdade juntas. A gente foi pra FAAP também. Eu, depois de anos e anos voltei a estudar e fui fazer o curso superior da FAAP, de desenho industrial. E a Lili fazia trabalhos junto comigo e nós fomos “do processo”. Fomos expulsos da FAAP. O Sergio, meu ex-marido, a Lili e mais uma outra colega.

Leonora:
Sofreram o processo como alunos?

Maria Izabel:
Como alunos. Fomos expulsos porque fizemos um trabalho que foi tachado de “subversivo”.

Leonora:
Ai...que absurdo, mas que ódio...

Maria Izabel:
Isso em 71, 72 e eu não fui presa porque estava grávida.De dentro da FAAP nós fomos expulsos. A Lili depois conseguiu refazer o curso, mas eu e meu ex-marido, que éramos chefes da equipe, não. E quem era o professor da matéria era o Donato Ferrari, que era diretor. Ele deu nota dez no nosso trabalho e foi arrolado no processo também.

Leonora:
Mas o que vocês fizeram para serem tachados de subversivos? Porque era tudo muito absurdo.

Maria Izabel:
Era um absurdo. O Donato Ferrari tinha sido premiado numa exposição, onde ele fez um labirinto que era de acrílico e você entrava nesse labirinto e ia entrando, ia entrando e você chegava num cubo de acrílico com merda dentro. Escroto mesmo.
Porque ele dizia que o mundo era isso mesmo: você girava, girava, girava e caía na merda...não tinha por onde escapar.
Primeiro uma resposta teórica conceitual, muito bem redigida, com acessória do Jota [professor JJ de Moraes]. Depois fizemos um trabalho prático que era uma privada com diversas tampas: a 1ª tampa tinha o mapa mundi, a 2ª tampa o mapa das Américas, a 3ª o mapa do Brasil com a estampa da Bandeira Nacional e o Brazão da República (o pivô da história), 4ª tampa a cidade de São Paulo e fotos da FAAP, no fundo da privada tinha um espelho quebrado, onde você se refletia na “merda”.
Tudo isto era uma brincadeira, porque quando você se afastava da privada você saía da “merda”, mas os espiões da repressão julgaram o trabalho como uma provocação e desrespeito aos símbolos da nação, resultando no processo militar.
Foram arrolados no processo os professores: Donato Ferrari, Jorge Carvajal de Souza, JJ de Moraes, Mário Chikawa e os alunos da equipe: Antonio Sergio Gonçalves, Maria Izabel Franco, Eliete Mauri e Fernanda.

Leonora:
Deveria ser motivo de orgulho...gerar um processo por isso.
Também tive aula com o Donato e gostava dele.

Maria Izabel:
É...a importância do iadê é que num momento em que faculdade de desenho industrial só existia o ESDI....

Leonora:
No Rio de Janeiro.

Maria Izabel:
No Rio de Janeiro, tanto que um professor de lá veio dar aula no iadê, o Paulo Jorge Pedreira deu aula no iadê.
Em São Paulo não se falava, não tinha nada sobre desenho industrial.
A FAAP foi formada por professores do iadê. Eram professores do iadê e o curso passou a existir na FAAP, que era uma extensão do iadê. Todo mundo dizia que a FAAP era o curso superior do iadê, não é?

Leonora:
Todo mundo saía do iadê e ia pra lá.

Maria Izabel:
Saía do iadê e ia pra FAAP, né? E ali foi o centro que formou muitos alunos e muita gente que foi professor do iadê foi também da FAAP.
O curso da FAAP também cresceu de acordo com o crescimento do curso do iadê, foi aonde o desenho industrial começou a aparecer e começaram a ter profissionais também na área de decoração tentando mudar o conceito de decoração, e foi aí que se conseguiu, porque inclusive a ABD [Associação Brasileira de Decoradores foi fundada dentro do iadê].

Leonora:
Ah isso eu não sabia.

Maria Izabel:
Foi fundada dentro do iadê, pelo Márcio Colaferro, a Maria Leolinda Gioia, eu, a Maria Luiza Brandalise, Idéo Bava, Maria Albertina Pereira, Michiro Motoda e outros.

Leonora:
A Joya foi aluna também, não foi?

Maria Izabel:
Não, você está falando da outra Joya Bergamo.

Leonora:
Ah, então é outra.

Maria Izabel:
Da outra Gioia. A outra Gioia foi aluna e depois professora do iadê. A Gioia, essa Maria Leolinda foi aluna na mesma época que eu fui aluna e foi professora na mesma época em que eu fui professora do iadê.
Então o iadê cresceu nesse sentido também, o de criar também uma profissão, porque o decorador hoje, como arquitetura de interiores, design de interiores, surgiu do iadê. O iadê que mandou depois para a FAAP de nível superior e também de nível livre, porque a FAAP tem também o curso livre de decoração, não é?
Os professores da Belas Artes, foram professores do iadê, Marcelo Nitsche e tal, o Eddy, o Eddy foi diretor da Belas Artes.

Leonora:
O Paulo Ramos Machado.

Maria Izabel:
O Paulo, o Paulo dava aula de artes, não é? De história da arte, então isso foi...e o Paulo era amicíssimo do Cardim, que é o dono da Belas Artes, né, a família Cardim. Então foi o foco mesmo, o iadê. O iadê produziu tudo isso, sabe.

Leonora:
Eu acho que o iadê mudou o conceito mesmo, do desenho industrial.

Maria Izabel:
Completamente, o conceito do desenho do objeto, o desenho do espaço interno e comunicação visual.

Leonora:
É importante esta cadeira, por causa do conceito do desenho do objeto. Porque é um objeto adequado ao Brasil, com um design muito bom, além de barata.
Maria Izabel:
É essa coisa do desenho industrial verdadeiro, não é o de desenhar bandeja bonitinha, o desenho de enfeite.

Leonora:
Ou copiar o que está pronto.

Maria Izabel:
Ou copiar o que vem de fora.

Leonora:
Ou pagar um milhão por uma cadeira.

Maria Izabel:
É, não é por aí...é o produto que pode ser industrializado para atender o povo, que era o conceito do Michel Arnaud, Michel faleceu agora, nesta semana, de fazer a cadeira desmontável, fácil de embalar, pegue e leve. Isso tudo era conceito que era dado no iadê. Nós desenhamos embalagem também. O iadê dava desenho de embalagem no desenho de comunicação.
Então foi isso que foi mudando o conceito de design. Hoje existe a ABD. O instituto dos arquitetos do Brasil respeitam demais a ABD, por que? Porque eles sabem que a ABD tem os princípios do iadê. (Associação Brasileira de Designers de Interiores)

Leonora:
Mas a profissão de designer não é reconhecida ainda.

Maria Izabel:
Ainda não, a ABD está tentando junto ao Congresso Nacional (política) é por briga com o instituto, do CREA. O CREA é que não está aceitando, o CREA acha que o designer não tem direito ao registro e às vezes tem mais direito do que muito engenheiro.

Leonora:
O estatuto que fizeram está antigo já, precisaria renovar.

Maria Izabel:
Reformular para poder oficializar a profissão, porque é uma profissão mais que necessária. Começou a indústria e os industriais a aceitarem o design, coisa que antigamente não existia.
Hoje o empresário respeita, contrata um designer, contrata um estagiário de desenho, contrata estagiário de comunicação.

Leonora:
É muito importante para o produto final.

Maria Izabel:
Esse conceito começou a mudar e começou a mudar pelo iadê e com o iadê. O iadê, infelizmente não existe mais.

Leonora:
O iadê fechou mesmo em 87?

Maria Izabel:
De 82, quando saí...pode ter sido em 87, só mais cinco anos.

Leonora:
E os endereços?

Maria Izabel:
Eles foram para a Rebouças, depois para a Alves Guimarães. Aí o Emílio saiu também. Ficou só o Michiro.

Leonora:
E a documentação da escola, onde ficou?

Maria Izabel:
Quando eu saí fiz o recolhimento na secretaria de educação, no setor de educação artística, de todo o arquivo do iadê, do curso livre de 1959 até 1968.

Leonora:
Porque é importante, gostaria de procurar nomes de alunos e professores.

Maria Izabel:
Foi todinho recolhido pela fiscalização artística, pelo departamento de fiscalização artística da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.

Leonora:
Aonde a gente encontra isso, no MEC?

Maria Izabel:
Não, porque eles são da educação do Estado. Ficou uma salada de frutas tão grande que não se consegue achar mais nada, mas eu tenho até o requerimento de onde eu fiz o depósito. Eles recolheram o arquivo, foram lá no iadê e tiraram três arquivos e levaram.

Leonora:
Era de toda a escola?

Maria Izabel:
Era do curso livre, de três anos, quando o curso técnico foi editado e foi cancelado o outro, antes de reeditar o curso de um ano, eu fui obrigada a chamar a fiscalização artística. Nesse caso, você vai ver que ele era reconhecido pela fiscalização artística, tinha o Morrone, depois tinha um outro professor que fazia a fiscalização artística. O Paulo é que tinha muito contato com eles através do Cardim, porque ele, dono da Belas artes, era da fiscalização, era diretor da fiscalização artística.
E foi recolhido todo o arquivo daquele curso e nunca mais...tive notícia.

Leonora:
Alguém tentou encontrar?

Maria Izabel:
Depois, o arquivo também, do curso técnico de desenho de comunicação, quando o iadê fechou, foi recolhido pela secretaria. Eu não estava mais presente. Eu não estava mais, mas foi todinho recolhido, se precisar de alguma coisa, do seu diploma, e tal, você tem que recorrer à secretaria de educação e saber onde foi parar o arquivo do iadê (Colégio Técnico iadê, de 1969 a 1987).

Leonora:
Queria a lista de nomes, professores, essas coisas.

Maria Izabel:
O Eddy é que tem muito contato não é? Ele tem muitos contatos.
Alunos assim famosos que saíram do curso do iadê, do curso oficializado, o Fernando Silva Pinto, que hoje é jornalista da globo. O Fernandinho. Eu gostava muito do Fernandinho, a gente se dava muito bem. A Isabela Assunção, a Isabela Assunção foi do curso livre ainda, de três anos, e ela foi assistente do iadê também.
A Tizuca Yamazaki. Tizucão era a coisa mais linda do mundo, meu deus do céu!
Ela morava em Atibaia, com os pais, não com a mãe e a avó, porque ela não tinha mais pai. Ela chegava na segunda feira com uma cestona cheia de verduras. Distribuía verduras pra todo mundo, era uma coisa mais linda!
A irmã dela também estudou no iadê e a Tizuca fez o curso e foi assistente.
A Tizuca foi assistente do Haron e de quem mais? ....do Ruy, do Ruy Ohtake! Depois ela foi embora. Hoje ela é uma cineasta famosa.

Leonora:
E aquelas exposições, a Didática...

Maria Izabel:
A Beth [Brait] fez uma de textos, textos ilustrados. A Beth foi excelente professora de português, ela e o Jota. [JJ de Moraes]

Leonora:
Eu fui aluna deles.

Maria Izabel:
Rigorosos na nota que era uma coisa! O Jota, principalmente a Beth, mas a Beth tinha direito de ser, porque ela dava uma aula que era ótima. Hoje ela dá aula lá na USP. A Beth está na USP, sorte deles, porque a Beth é um encanto...
Lenora de Barros também...

Leonora:
Eu falei com a Lenora.

Maria Izabel:
Falou? A Lenora foi aluna, depois foi professora, e filha do Geraldo de Barros, que era designer e grande amigo meu.

Leonora:
A irmã dela também, a Fabiana.

Maria Izabel:
A Fabiana está na Suíça. A Fabiana me dava um trabalho! Ah, mas a Fabiana dava trabalho. O Geraldo ia lá e dizia: Izabel, o que eu faço com a Fabiana?
Eu dizia: Bate Geraldo, é o único jeito...

[risos]

Quando eu tive o Rodrigo ele me mandou o berço pro Rodrigo e me mandou este sofá, é um sofá-cama. Isso aí é desenho do Geraldo de Barros, não existe mais. Nem a Lenora sabe que eu tenho este sofá.

Leonora:
Vou falar pra ela. Vou tirar uma foto do sofá, pode?

Maria Izabel:
Pode! Ele está todo detonado, né...porque eu não consigo ficar sem ele. Não consigo abandonar. Ele nem ta abrindo como sofá-cama mais, as almofadas estão todas detonadas, mas é do Geraldo de Barros, que era muito meu amigo.
A Lenora nunca deu trabalho, mas a Fabiana...ô Bia, meu deus do céu!
Era atrás da Bia o dia inteiro!
O Geraldo me ligava: _Bel, a Bia foi na aula?
_Eu não sei.

Ela faltava, não entregava trabalho, meu deus do céu, o Geraldo ficava louco!

Leonora:
Depois mudou, não é?

Maria Izabel:
Quando ela terminou o iadê, logo depois ela já ficou gente grande, viu? Gente grande.
Uma vez encontrei a Lenora, até a Lenora falou assim: Izabel, parece que é uma coisa viu, mas a Fabiana tomou jeito logo, logo. Deu essa alegria pro papai!

Leonora:
Ainda bem! Depois de um show no Senac, aproveitei e falei com ela.

Maria Izabel:
Ah!

Leonora:
Não perdi a oportunidade...

Maria Izabel:
Lá no Senac tem um ex-professor do iadê, estava dirigindo um curso no Senac, não sei se ainda está, o Perrone.

Leonora:
O Saggese também.

Maria Izabel:
Ah, o Saggese, de fotografia.
Encontrei o Saggese no começo do ano, no super-mercado.

Leonora:
Eu mandei um e-mail pra ele, mas ainda não me respondeu.

Maria Izabel:
Você quer entrevistar o Ricardo Ohtake?
Eu tenho o telefone dele.

Leonora:
Preciso falar com o Eddy, nem com ele ainda eu falei...

Maria Izabel:
-------------, é o número do estúdio dele. É aqui na .......

Leonora:
Vou ligar pra ele. Também mandei e-mail para o Renato Vieira filho.

Maria Izabel:
Oh, mas há quanto tempo eu não tenho notícia do Renato!

Leonora:
Ele é psicanalista, mora e trabalha em São Caetano, disse que vai colaborar com o trabalho.

Maria Izabel:
Saggese que me falou. Não, não, minto, não foi. Com quem eu estive que me deu notícia? O Cássio!

Leonora:
Michalany?

Maria Izabel:
É, o Cássio mora aqui pertinho de mim, a uma quadra mais ou menos.

Leonora:
Ah é?

Maria Izabel:
Deu notícia do Renato, o Cássio; e me deu notícia do Ettore.

Leonora:
Alguém também me falou que ele é capista da Cia das Letras.

Maria Izabel:
Maria Lúcia Machado também.
Anna Maria Bitencourt, esposa do Chaves. Davam aula na época do iadê oficializado, porque o Chaves era da turma que era professor do iadê e um dos primeiros a fazer o curso da FAAP.

Leonora:
Nas apostilas tinha um código, você sabe o que significa?

Maria Izabel:
Não, não lembro.

Leonora:
E quantos departamentos tinha lá? O teórico e qual mais?

Maria Izabel:
Tinha o departamento de desenho, né, era das áreas de desenho. Tinha de...chamava de comunicação, que era de português, essas matérias...e tinha o de ciências, que eram a fotografia, a física e a matemática.
O código deveria ser do departamento do professor.

Leonora:
O produto que vou fazer é um site.

Maria Izabel:
Meu filho é doutorando de engenharia de produção na USP- Poli.

Leonora:
O usuário poderá entrar e fazer narrativas. Postar fotos...

Maria Izabel:
Ah...

Leonora:
Daí, a gente lê o que o outro escreveu e pode lembrar de outras coisas.

Maria Izabel:
Muita coisa...

Leonora:
Amanhã vou copiar e escanear.

Maria Izabel:
Quer levar isso? Tem uma foto interessante, o Emílio e eu no estúdio profissional do iadê, quando nós estávamos fazendo, acho que o trabalho da FGV.
Cadeira do iadê...e aqui fala da cadeira do iadê que saiu no suplemento feminino e esse aqui saiu também, acho que no suplemento feminino.
Aqui fala do iadê.
Se quiser levar, pode, só que, pelo amor de deus....aqui é o Chaves [no recorte do jornal]. É o professor Chaves e eu, ele analisando o meu projeto de cadeira.

Leonora:
Bonita cadeira.

Maria Izabel:
É, foi uma das melhores, nota 10. Essa cadeira aqui que está ao lado de uma cadeira desenhada pelo Bianchi.
Nessa sala de aula é que eu passei a dar aula. Aqui estou como aluna.
Isso vai ser muito difícil de escanear, viu?

Leonora:
Não, no Senac tem um scanner enorme. Dá sim, eu escaneio página a página, assim.

Maria Izabel:
Ah, então você leva isto aqui, que eu acho que vai ser muito importante pra você.
Outra cadeira, esta foto aqui foi lá no estúdio do iadê, o Geraldão que tirou. O Geraldo Ambrósio quem tirou. [foto da Izabel, sentada na cadeirinha do iadê]

Leonora:
Isso tudo vou colocar no memorial.

Maria Izabel:
Isso aqui é da oficialização do curso. É importante e ninguém mais tem para te emprestar. Olha: departamento de ensino técnico. Serviço do ensino profissional livre. Setor de registro de professores e escola de professores. Ah não, é o meu registro...não é o registro do curso do iadê não.
Do iadê, quem deveria ter, não sei se guardou e te mostrou, era o Paulo.

Leonora:
Não, ele não falou nada.

Maria Izabel:
Então ficou com o Michiro e foi arquivado junto.

Leonora:
Eu tenho que ir ao MEC fazer uma busca e se não encontrar, vou pedir para o ministro...

Maria Izabel:
Acho que é o jeito, viu, porque foi uma escola que teve uma importância e foi todinho recolhido pela secretaria estadual, não foi pelo MEC.

Leonora:
Preciso saber se foi destruído ou não.

Maria Izabel:
Eu acho que a secretaria da educação não pode destruir um arquivo de uma escola.Tenho certeza de que foi a secretaria de educação porque eu já não estava mais no iadê.

Leonora:
Meu histórico da Faap, a Faap fala que queimou, pegou fogo.

Maria Izabel:
Ah é?

Leonora:
É que a cada dez anos “pega” fogo.

Maria Izabel:
Ah pega fogo...

Leonora:
É uma falta de responsabilidade, ta louco. Então agora eu tenho um histórico, mas não tenho o meu histórico. Eles me deram um histórico que não é o meu, com professores que eram da minha classe na época, agora como meus professores. Um menino era o Zé Spaniol, que aparece como meu professor.

Maria Izabel:
Meu deus!

Leonora:
Eles não têm mais nada.

Maria Izabel:
São poucos os professores que ainda estão levando a sério, fale com o Márcio Colaferro, eu não tenho o e-mail dele marcado, mas te dou o telefone dele, você fala que fui eu que passei pra você, que aí ele vai te dar o e-mail e daí ele pode te passar coisas e tal. O Márcio é uma pessoa incrível, você não perca o contato com ele nunca, sabe.
O celular é......................., Márcio Colaferro.
Quando você fez o iadê, você tinha que fazer educação física?

Leonora:
Fazia sim.

Maria Izabel:
Com o Jura e a Elenyr?

Leonora:
Eram o Jurandyr e a mulher dele.

Maria Izabel:
O Jurandyr e a Elenyr, mulher dele.

Leonora:
Eram os dois.

Maria Izabel:
Eram os dois. Agora eu vi os nomes dos dois aqui.

Leonora:
Eu não lembrava o nome dela.

[risos]

Maria Izabel:
Eles moram em Jundiaí.

Leonora:
Ah é?

Maria Izabel:
É, agora na Páscoa mesmo a Elenyr me ligou. Eu ligo sempre pra eles.

Leonora:
Eles são muito legais.

Maria Izabel:
Eu te dou o telefone deles: ..........................Jundiaí.

Leonora:
O Emílio falou que chegaram a mil alunos.

Maria Izabel:
Teve momentos em que teve circulando dentro do iadê mil alunos. Agora, que formou, o iadê formou muito mais do que mil alunos, muito mais. Entre o curso não oficializado, o curso livre de três anos, depois o curso de um ano e o curso oficializado de três, menina, não ta escrito.
A Poppovic mesmo foi aluna do iadê.

Leonora:
É, a Poppovic já está na minha lista.

Maria Izabel:
Foi tanta gente.

Leonora:
Na minha classe agora, eu entrei em 2003, nem sonhava com esse trabalho e tem um rapaz que estudou no iadê e a gente só foi descobrir agora na apresentação do pré-projeto no final do ano passado. [2004] ele estava na aula, depois me disse que quando viu o iadê quase caiu duro, nem acreditava.
O Paulo Alves de Lima, ele falou que só aprontava lá.

Maria Izabel:
Nossa, quem aprontava lá era a turma da noite, meu deus, a turma da noite era fogo.
Esse material é importante, o Eddy vai precisar para a tese dele.

Leonora:
Essa semana eu já escaneio e depois trago de volta.
Quero ver se consigo marcar o vídeo nessa semana mesmo, já mandei e-mail para a orientadora, ela conversou com o responsável e disse que é para eu mandar um e-mail para marcar uma data, não como uma entrevista, mas uma conversa informal.

Maria Izabel:
Ah seria muito bom!

Leonora:
É seria bem bonito.

Maria Izabel:
Bem bonito, reunir o pessoal todo. A Beth Brait, o Jota, ah, meu deus, vê se você consegue!
Eu vou com a maior satisfação, vou mesmo, porque inclusive esse reencontro é muito importante.

Leonora:
Eu acho também.

Maria Izabel:
Muito importante, o Paulo, também, com certeza o Paulo vai. O Emílio que é um bicho...

Leonora:
Ele vai!Disse que vai e ficou super feliz.

Maria Izabel:
Não acredito! Porque é um bicho-do-mato.

Leonora:
Bom, ele disse que vai, eu não sabia que ele era assim.Falou...ahhh eu vou!

Maria Izabel:
Lembro dele, lá no iadê, ele começou a dar aula no ano em que eu entrei, em 1960 ele começou a dar aulas no iadê, o Emílio. Não entendia nada do que ele falava.

Leonora:
Não falava português?

Maria Izabel:
Não, pra ele mesmo, basta o espanhol, ai meu deus, que sacrifício que era!

Leonora:
O Paulo vai também, ah, o Paulo foi professor da minha orientadora, lá na Santa Marcelina.

Maria Izabel:
Ah, na Santa Marcelina. O Paulo que levou o Eddy para o iadê. O Eddy foi no Recife e entrevistou o Bianchi.

Leonora:
Ah, se eu tivesse dinheiro iria também.

Maria Izabel:
Foi até lá especialmente para entrevistar.

Leonora:
O Eddy falou que ele escreveu um livro, não sei o nome, mas eu queria entrar em contato.

Maria Izabel:
Posso ver se consigo isso pra você Leonora, porque a primeira esposa do Bianchi mora aqui perto de mim e eu tenho contato, de vez em quando eu encontro a Linda e eu já perguntei a ela, ela falou assim: ah, Izabel, eu vou falar com o Dedi, que é o filho, se o Dedi tem o nome do livro e tal. Falei: eu quero ir atrás desse livro, não é?
Ela falou: você precisa ir lá no Recife ver o Bianchi! Eu falei: preciso mesmo.

Leonora:
Vamos então.
[risos]
É pertinho, não é?

Maria Izabel:
Eu tenho muita vontade, tenho uma prima morando lá.

Leonora:
Vida boa deve ter o Bianchi lá, não é? Sorte dele.

Maria Izabel:
Está bem melhor do que quem ficou.

Leonora:
Ele é excelente profissional, não é? Qualquer lugar em que vá trabalhar terá sucesso.

Maria Izabel:
É, é.

Leonora:
Para o Bianchi, a gente manda o endereço do site e ele coloca o que quiser.

Maria Izabel:
É, eu queria ver antes de publicar esse livro aí, porque tem coisas que estão erradas aí, sobre o iadê.

Leonora:
Fiz a pesquisa também, sobre a marca iadê, para não ser presa, não é? A marca iadê está sem dono, a marca da escola, estou falando.
Ah, outra coisa importante, tem uma escola iadê em Portugal, de design também, da mesma época que a do Brasil [de um pouco mais tarde,1970] será que tem alguma coisa a ver?
Será que alguém do iadê fundou a escola em Portugal? Pensei nisso porque o Landerset Simões era português, não era? Pode ser um parente dele.

Maria Izabel:
Não sei, mas o professor Landerset morreu aqui em São Paulo.

Leonora:
Porque, pelo menos pelo site, tem muita coisa parecida.

Maria Izabel:
É, pode ser algum filho do professor Landerset.

Leonora:
Que foi pra lá e fez a escola, talvez.

Maria Izabel:
Porque o professor Landerset saiu do iadê antes da gente mudar pra Paulista.

Leonora:
Ah, então faz tempo.

Maria Izabel:
Ele tinha 50% do iadê. 50% do professor Landerset é que o Bianchi distribuiu para os sócios que eram: o Paulo, Michiro, eu, a Gioia, Sophia, Íbis Ramos Azevedo e outros. A gente entrou daí logo em seguida a gente fez a mudança para a sede nova da Paulista. Foi na saída do Landerset. Bom, ele fundou o iadê em 59, com o Bianchi e saiu em 64. Porque em 65 foi a mudança pra Paulista.

Leonora:
É tão bonita esta marca não é?

Maria Izabel:
É muito linda e muito significativa, não é? E dela foi tirado também o nome da firma , a marcenaria que foi sócia também do iadê, a Pentágono.

Leonora:
Ah.

Maria Izabel:
Sabe, uma marcenaria muito boa até hoje aberta e ela é que produzia todos os móveis do iadê. Não era do Bianchi, a gente era sócio do Pablo Brioñes, que é um espanhol que é diretor lá do centro espanhol que o Emílio dá aula.

Leonora:
Ah.

Maria Izabel:
Pentágono, surgiu o nome Pentágono por causa da marca do iadê.
Você tem fotos?

Leonora:
Tenho fotos dos alunos.

Maria Izabel:
O Márcio Colaferro tem fotos dele dando aulas nas salas de aula, aparece a reunião de alunos, em volta as mesas redondas que tinham.

Leonora:
Tem uma foto da Lola na sala de aulas da foto.

Maria Izabel:
Ah a Lola!

Leonora:
Da Lola, ninguém sabe dela.

Maria Izabel:
Ah, a Lola e o Topa, o Armando, que era o marido dela. Encontrei com a Lola quando? Então...fazem uns dois anos.

Leonora:
É que a Lola ficou até fechar, não é?

Maria Izabel:
Foi sim.

Leonora:
Eu conversei também com o Matangra, que foi aluno, Flávio Luiz Matangrano, agora ele dá aula na Faap, foi professor no último ano do iadê.

Maria Izabel:
Ah. O Eddy é que lembra bem de todos.

Leonora:
É, o Matangra estudou no iadê e depois foi professor em 87. Ele falou que foi deprimente.


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