LEONORA FINK
1974 - CURSO TÉCNICO DE DESENHO DE COMUNICAÇÃO
 
apostila de 1974 para o primeiro ano do curso técnico de desenho de comunicação
matéria - teoria e técnica da comunicação visual
professora - Diva Gomes


TEXTO 2 – O IMPRESSIONISMO: NOVO PONTO DE PARTIDA, NOVA MANEIRA DE PINTAR, NOVA MANEIRA DE VER.

“Louco, grotesco, hediondo e revoltante”.
“Selvagens obstinados não querem – preguiça ou incapacidade? – terminar os seus trabalhos. Contentam-se com uns borrões para representar as suas impressões. Que farsantes: Impressionistas!”
Diante das recusas do Salão Oficial de Paris, alguns jovens artistas decidiram, em 1874, constituir uma “sociedade anônima cooperativa de artistas independentes” e organizaram, de 15 de abril a 15 de maio, uma exposição de suas obras nos ateliers de um fotógrafo.
Aqueles comentários têm como alvo esta primeira exposição coletiva dos pintores “independentes”, conhecidos a partir desta data, como pintores “impressionistas”. Participavam desta manifestação: Claude Monet, Auguste Renoir, Paul Cézanne, Edgar Degas, Alfred Sisley, Camille Pissarro, Armand Guillaumin, Berthe Morisot, etc.
O título dado ao conjunto das obras expostas pegou. Mas os “borrões” não são filhos da preguiça ou da incapacidade dos jovens pintores. Na verdade, devemos a eles não só uma nova maneira de pintar (uma nova técnica) mas uma nova maneira de ver (uma nova ótica). Os pintores impressionistas, cuja intenção declarada era destruir o Renascimento, colocam as bases para a arte contemporânea. O impressionismo deve ser visto como ponto de partida de uma investigação artística que se esta desenvolvendo em nossos dias.

OS PONTOS DE PARTIDA DA ARTE IMPRESSIONISTA

a. O problema do tema..
A escolha dos temas constituiu uma grande preocupação dos artistas da “Escola de Paris”. Contra os solenes retratos e os grandiosos temas históricos, então em moda, estes pintores escolhem seus temas na atualidade. Eles estão de pleno acordo com o poeta Baudelaire, que escreve em “Art Romantique”: “A modernidade, este elemento transitório, fugitivo, cujas metamorfoses são tão freqüentes, vós não tendes o direito de desprezá-la ou de ignorá-la”. Ou com o pintor Manet, que afirmava: “É necessário pertencer à própria época e fazer aquilo que se vê”.
Degas, por exemplo, quis, ele mesmo o diz, ser “o pintor clássico da vida moderna” e seus temas – corridas de cavalos, lavadeiras ou engomadeiras, modistas, dança clássica, mulheres no toucador – são inspirações daquilo que podia observar à sua volta.

b. O problema do ar livre
A pintura ao “ar livre”, é a grande descoberta destes artistas, que passam os dias fora do estúdio, exaltados diante da incessante mutação da luz e das cores nas árvores, na água, no céu, nas flores e, mesmo, na figura humana.
Monet chegou mesmo a construir um barco estúdio e já no fim da vida continuava a afirmar que a maneira ideal de um pintor paisagista trabalhar é ao ar livre: “Somente tenho o mérito de ter pintado diretamente diante da natureza, tentando dar minhas impressões sobre os efeitos mais fugidios.”

c. O problema da luz..
A luz, eis a preocupação fundamental dos pintores impressionistas.
Monet chega a dizer que “a luz é a principal personagem do quadro” e descreveu como lutava para representar sobre a tela a “beleza do ar...e isto é impossível”.
É de uma observação cuidadosa das qualidades da luz e no desejo de fixar sobre a tela “sensações luminosas”, que nasce a técnica impressionista da decomposição da cor em manchas e pontos, da fragmentação da pincelada.

A TÉCNICA IMPRESSIONISTA

Os pintores impressionistas excluem de suas paletas os negros, os cinzas, os amarelos, os laranjas, os vermelhos, os violetas. Vão empregar estas cores, freqüentemente, segundo a técnica da mistura ótica: duas cores puras são justapostas na tela – e não misturadas na paleta – e é o olho do espectador que recompõe então a cor desejada pelo pintor (1).
Já o pintor Delacroix (1798 – 1863) preconizava: “É bom que as pinceladas não sejam materialmente fundidas, elas se fundem naturalmente, à distancia desejada, pela lei simpática que as associou”.
A divisão dos tons exprime extraordinariamente a fragmentação dos reflexos na água, mas os impressionistas irão estendê-la mesmo à figuração dos sólidos.
Escolha de temas atuais, entusiasmo pela pintura ao ar livre, culto da luz e da cor, estão na base do que se denomina arte “espontânea” dos impressionistas.
Marcel Proust, romancista contemporâneo a estes pintores, define com muita justeza a arte nova: “...As superfícies e os volumes são na realidade independentes dos nomes de objetos que nossa memória lhes impõe depois de reconhecê-los...Elstir esforçava-se por arrancar aquilo que acabava de sentir o que sabia. Seu esforço tinha sido freqüentemente para dissolver esse agregado de raciocínios que chamamos visão (em “A la Recherche du Temps Perdu”).
Aquilo que os pintores impressionistas procuram fixar ou visualizar nas telas será não os objetos mas suas sensações momentâneas, luminosas e coloridas, ou, como diz Monet, as “ impressões fugidias”.
O importante será avaliarmos a influência que teve o registro das sensações luminosas sobre o modo de representação do espaço.

O importante será sabermos se, ao representar na tela não o que se sabe das coisas, mas a impressão imediata que a ação dos objetos exteriores produz sobre os órgãos dos sentidos, o grupo de artistas “independentes” lança as bases para um novo sistema de representação do espaço. O importante será sabermos se com os impressionistas nasce uma nova visão. Este será o tema do texto 3, onde serão destacados dois pintores: Claude Monet e Edgar Degas.

A técnica impressionista repousa sobre as teorias físicas da luz e das cores de Chevreul (“ A lei do contraste científico das cores e da variação dos objetos coloridos”, 1839), desenvolvidas por Helmholtz (1878) e O. N. Rood (Teoria Científica das cores, 1881), que podemos assim resumir:
O espectro solar compõe-se de 7 cores. Três são denominadas primárias
ou geradoras: o azul, o vermelho, o amarelo. Três são chamadas binárias ou mistas: o verde, o violeta, o laranja.
Cada uma das três cores binárias é a complementar da cor primária que não entra na sua composição: o verde é o complementar do vermelho, o violeta a complementar do amarelo e o laranja do azul.
Segundo o princípio das complementares, cada cor tende a colorir com sua complementar o espaço circundante. Assim, por exemplo, um objeto vermelho verá sua sombra colorir-se de verde.
Segundo a lei do contraste simultâneo das cores, duas complementares (verde e vermelho, por exemplo) ou duas complementares binárias (violeta e verde) exaltam-se e tornam-se mais intensas quando são justapostas, enquanto se anulam se forem misturadas pigmentariamente.


voltar a busca